quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Se esta rua fosse minha
Sempre morei no Edifício Renascença. É o terceiro ou quarto prédio da cidade. Hoje bem decadente, é verdade. Atrás fica a Travessa Primeiro de Março, desde o IEP, até o Boulevard, sempre estreita, acompanhando o traçado da Presidente Vargas. Quando me entendi como gente, o melhor da zona do meretrício já havia passado. Mas ainda vi desfiles dos Boêmios da Campina e suas figuras de chapeu branco, paletó vermelho, calças e sapatos brancos, abraçados com suas mulheres ou, como dizia minha mãe, "aquelas mulheres". Uma vez, cheguei a assistir uma briga de faca, que terminou no chão, mas desapartaram antes de algo pior. O prédio onde está o Cuíra, construído em 1905, já foi desde loja de algodão, cabaré, até borracharia. Agora é o Teatro Cuíra. Todo esse rodeio para avisar que a partir deste domingo, 18, iniciamos os trabalhos de 2009 com o projeto Se esta rua fosse minha, que consta de uma feirinha, na Primeiro de Março, lateral do Teatro e dentro, espetáculo infantil, tudo pela manhã. É bom que saibam que é tudo na marra. Na vontade. No compromisso de fazer. As cuíras Oriana Bitar e Patrícia Gondim estão à frente. A primeira, reunindo a galera da feirinha, que aumenta a cada dia. A idéia, ali, é oferecer desde discos em vinil, vestidos, bijús, antiguidades, enfim, um pouco diferente do comércio da Praça da República. Não se quer abafar ninguém. Pelo contrário. Dentro, teatro infantil, iniciando com os Notáveis Clowns. Entre os apoiadores, a Sesan, que enviou fiscais para convencer síndicos e moradores de rua a não espalhar e sim dividir o lixo corretamente e outros detalhes. Uma lavagem geral será feita com a Sesan e a galera, em regime de mutirão, neste sábado, cinco da tarde. E há muito o que lavar. Desde que estouraram uma fábrica de drogas no meio do quarteirão da Riachuelo e fecharam uma casa, um grupo de dez a quinze vadios decidiu viver ao ar livre, na esquina do Cuíra, emporcalhando tudo com sua presença, incomodando moradores, realizando pequenos furtos e tráfico de crack. Nada é feito. Mas vamos limpar. Isso quer dizer que nós, do Cuíra, fazemos nossa parte. Matamos a cobra e mostramos o pau. Nossa área é Teatro, Artes Cênicas, Literatura, Cinema, enfim, Cultura. Achamos, todos, que a saída é Cultura, Cultura, Cultura. Até lá, prosseguimos reféns. Mas vai ser, creio, o embrião de algo bem maior, bonito e duradouro. É uma idéia minha, da qual tenho orgulho, totalmente abraçada por Oriana, Patrícia, Zê e a galera que estará lá, aguardando por visitas.
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