terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Um Batman para Belém

Somente ontem assisti ao filme mais recente do Batman, que curiosamente destacou não o protagonista, mas o vilão, o ator Heath Ledger, seja por sua atuação, seja pela carreira curta, mas intensa, ou por sua morte prematura. Antes, havia recusado assistir. Mesmo considerando toda a importância desses heróis, nas HQs para minha geração e seu ressurgimento nos últimos anos, pela revitalização das comics, our por filmes, resisti. No mundo de hoje, com tantas modernidades, admitir, somente por deixar-se levar pela fantasia, um herói com aquela fantasia, aquele collant, a máscara e principalmente, a capa! Era demais. O filme é bom se considerarmos apenas a fantasia. Mas, felizmente, lança algumas discussões interessantes de travar após a sessão. A existência de um super herói, que também está acima de qualquer lei, somente porque, tudo que faz, é para o bem, mesmo que no caminho destrua bens, mate meliantes, quem sabe inocentes. Depois, através do Coringa, a violência sem culpa, sem fins lucrativos, pecuniários, digamos. Uma culpa, a cada vez inventada, de alguém que na infância, cortou sua boca, como que alargando cruelmente seu sorriso. Portanto, não foi apenas isso. Quanto a Ledger, dizem que se apossou tanto do personagem que isso o perturbou. Conheço muitos atores assim, mas não considero sua atuação tão brilhante e apenas normal, mais teatral do que o que o costumeiro fã de cinema assiste. Cacá Carvalho, por exemplo, daria um ótimo Coringa, ou Pinguim. No mais, não há defesa em como o Coringa consegue chegar à frente de todos, sempre, preparando armadilhas, contando com diversos e competentes ajudantes. Do outro lado, o Comissário Gordon e um Promotor, dois palhaços, estes, sim, como se o Coringa fosse um espelho, ou vice versa, palhaços dando ordens como aquele robot do Perdidos do Espaço, "perigo, perigo, perigo", dependendo apenas de Batman. Deixemos apenas pela fantasia, aqueles homens que representam a lei, em uma cidade, metrópóle, gigantesca, jogando ao céu um sinal, pedindo seu comparecimento. Há uma frase, dita ao final por Gordon, que diz "ele é o herói que a cidade merece, mas não é o que a cidade precisa". Lembrei de Belém.
Quem seria nosso Batman? E o Coringa? Bem, temos um baile inteiro de carnaval, um baralho inteiro, digamos, com várias opções. Imagino que não duraria dois dias e quem sabe, se mudaria para Manaus ou São Luiz, para nos dar ainda mais raiva. Quem permitiria a atuação de Batman? No filme, além do Coringa, há mafiosos, outro grupo de palhaços. Essa a grande diferença. Aqui em Belém, talvez sejamos nós, as pessoas de bem, os clowns. A contravenção é praticada a céu aberto. Batman não daria conta. Na primeira expulsão, viria um vereador aborrecido protestar porque era um pai de família, um trabalhador do mercado paralelo, melhor que estar roubando, etc. Para agir à noite, sua preferência, teria dificuldades. Não pela escuridão em si que nisso, somos ótimos. Belém é um breu vergonhoso. Bem, ainda não temos paredões de concreto onde ele possa se agarrar em seus pequenos vôos. Gente, a capa é ridícula! E quando fosse atrás dos ladrões pé de chinelo, pela Cidade Nova, Benguí, Che Guevara? Não, definitivamente, não. O Batmóvel ficaria preso no engarrafamento do Entroncamento. Sim, sairia de moto, mas precisaria ser muito bom em pilotar porque a galera daqui, sai da frente. Aqui, nossos motoqueiros são os novos centauros, os cavaleiros de capa e espada, os pistoleiros do oeste selvagem, em sua nova civilização, matando, roubando, conforme seu interesse ou julgamento. Antigamente, o sonho era ter um carro. Agora é ter a moto. A moto dá mobilidade, liberdade total, sem regras. O carro dá para se mostrar, o poder, dependendo do tamanho, mas é para outros Coringas, digamos assim. A moto entra em qualquer lugar. Agora estão vendendo ali no final da José Bonifácio, bicicletas com motor. Imagino crianças comprando e meliantes babando, distribuindo senha para roubar. Mas, voltando ao assunto, um Batman para Belém. Ele, Batman, representa o escuro de nossas almas. Nossa noite. Como morcego, se alimenta de sangue. Deve ler, todos os dias, Diário, Liberal e Amazônia e se deliciar. Mas, falando sério, Batman somos nós. Nossa vontade por Justiça, tranquilidade. Hoje vi nos jornais um ladrão surrado por Batmans. Arrastaram-no pelo chão, de modo a deixá-lo em carne viva. Queriam retirar-lhe a pele de assaltante, restituindo sua primeira pele, inocente? Batman somos nós? Lúcio Flávio Pinto seria um Batman? Não. Ele sempre utiliza as leis. Seria o delegado Gilvandro Furtado, agora dando expediente na Delegacia de Meio Ambiente? Também obedece as leis. E o Coringa?
Batman é Remo, Coringa é Paysandu? Batman é Jader, Coringa é Almir? Claro, rápido, arranjamos uma maneira de instalar tudo nesta nossa floresta de meliantes, deserto de idéias, vivemos aqui, sob as copas dessa grande mentira, neste abafado, fora das vistas de quem também não tem a menor vontade de nos ver ou dar importância. Assim, reinventamos o mundo, a nova civilização. E temos o herói que merecemos, não o que precisamos, ou seja, Cultura, Educação, Saúde, Saneamento e outras. Santa civilização, Batman!

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