Meu pai dizia isso, de Belém. É uma cidade difícil, despreparada para as mínimas exigências da civilização, sob um clima hostil para o ser humano, que o piora ainda mais. Não, pior que tudo são as pessoas. Talvez seja da nossa índole, a mistura do português com o indio. Essa desconfiança eterna. Esse não obedeço, faço do meu jeito, quando quiser e se quiser. E também esse enfeitar-se, gostar de dançar, cantar, fazer Arte e ao mesmo tempo, a dificuldade em aplaudir o outro, cantar seus heróis. Todos os que moram aqui sabem disso, mesmo os que não sabem que sabem. Mas à escolha entre ficar como a maioria, à espreita, para alvejar e triturar quem ousar botar a cabeça de fora da estufa e ofertar-se à sanha, com a recompensa apenas de tê-lo feito, a despeito de tudo, fico com o segundo. E foda-se. Se não acreditar que a Cultura é que move a Humanidade, e não o dinheiro, corruptos e corruptores, melhor parar.
Comecei a escrever esta primeira postagem de meu novo blog, impulsionado por um email enviado ao jornalista Ismael Machado, a respeito de uma entrevista feita comigo para o caderno Você, de O Diário do Pará, que passou pelo Teatro e a Literatura, áreas de minha atuação. Sei perfeitamente que em Belém, você lê o jornal com a faca entre os dentes, para ficar com raiva porque este ou aquele e não você, está sendo entrevistado, tem espetáculo apresentado, livro lançado, enfim. Sei que ninguém dá sopa e quanto mais ridícula a reação, mais interessante fica, como o caso de Josette Lasance, autora do tal email ao Ismael.
É que, após afirmar as dificuldades para os escritores em Belém, no Pará, com críticas às autoridades, Ismael perguntou por alguns, que eu sabia, estariam escrevendo e mereciam mais reconhecimento. Sem nenhum tempo para lembrar, arrisquei, perigosamente, Marcos Quinam, e Marcelo Damaso. Poderiam ser outros. O próprio Ismael que escreveu sobre o Rock dos anos 80 em Belém. Enfim. Isso irritou muito Lasance. Já havia ouvido falar. Há alguns anos, próximo a alguma montagem teatral minha, havia um livro de poesias, dela, sendo lançado. Não vou dizer se gostei ou não. Nem lembro. Josette parte dizendo que estamos equivocados. Que há muita gente escrevendo bem em Belém. Salve! Muito bom! Mas aí, vêm as ofensas normais de sempre, qualificando-me como riquinho de apartamento confortável com fácil acesso à mídia e outros mimos. Que coisa!
Tenho onze livros lançados. Que ela diga que os imprimi com meu dinheiro de riquinho, o que não é verdade, foda-se. Mas, tenho onze livros lançados, quatro deles com distribuição nacional, participação em duas coletâneas nacionais e próximamente em duas internacionais, fora o livro traduzido e lançado na Inglaterra, Hornets' Nest.
É muito difícil pensar alguma coisa em Belém, se todos estão armados, babando, "lendo" tudo de outra maneira. Mas não me arrependo. O Cuíra, meu grupo, tem grandes planos para 2009. Iremos ao Teatro da Paz com o Prc5. Queremos, com ele, nos mostrar em outras cidades do Pará. Voltaremos com o Cisne. Temos "Abraço", com Z e Cláudio Barradas, aí, começando a querer ser ensaiada novamente. Começo a escrever "Sem Dizer Adeus", sobre as últimas 72 horas de Magalhães Barata, segundo sua amante Dalila Ohana escreveu em livro polêmico. Pensamos em um musical, também. Na área de Literatura, se Lasance me permite, lanço logo no início do ano uma coletânea de poemas com o título O Tempo do Cabelo Crescer, através da Lei Tó Teixeira e patrocínio do Hotel Regente. Adiante, lanço um livro de poemas inéditos. Tenho um livro de crônicas pronto, aguardando o melhor momento para lançar. Inicio, quem sabe, mais um romance. Já escrevi dois episódios de um seriado todo passado em Belém que está sendo oferecido aos canais fechados por produtor carioca. Se não der certo, penso em publicar 1 capítulo por mês, vendido nas bancas, tipo aquele Black Mask, onde Dashiell Hammett escrevia.
Lembrei agora que Lasance recomendava-me ler mais, ler mais e ser mais informado. Pois eu lhe digo, escreva mais, escreva e apareça, escreva e escreva bem, escreva e consiga publicar, usando das Leis Culturais e patrocinadores. Sente a bunda para escrever e depois a tire para correr atrás de patrocínio. Enfim, querida, faça, mesmo que se submeta à sanha de idiotas que resolvem os problemas do mundo em uma mesa de bar e vão dormir, trôpegos e felizes, para no dia seguinte voltarem à sua vidinha normal e parasita. Que não suportam ver que alguém se destacou, que pode abrir caminho até mesmo para quem, como você, lê tudo com a faca entre os dentes. Aqui a gente cansa cêdo, sim, mas no dia seguinte, acorda com ânimo redobrado.
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