quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Dançando no Schivazappa

A Companhia São Paulo de Dança passou por Belém de maneira quase anônima, apesar de contar com excelentes bailarinos e ter trazido todo o material necessário para apresentações plenas. Época errada? Falta de divulgação? Assisti ao programa do primeiro dia. Uma amiga trabalhou nos primeiros meses da Companhia e arranjou ingressos. Pouca gente. Meia casa no Schivazappa. Onde estava a galera da dança em Belém? Alguns poucos por lá. Havia, naquela noite, apresentação de Clara Pinto, acho, no Teatro da Paz. Mas onde estava a galera de Ana Unger, fora ela própria, não somente presente, mas recepcionando a turma com um jantar, após a sessão. E outras galeras? Um dia desses, passei no prédio do IAP (que pessoalmente chamo de Instituto da Punheta, e explico em outra oportunidade) e vi uma exposição de fotos feitas dos antigos grupos de dança da cidade. Encontrei Teka Sallé e seu Amordaçado, Amor Dançado, para o qual colaborei, junto a Ronaldo Franco, com alguns textos. Pois é, sinto falta de Teka que se enredou na Escola de Teatro e Dança da Ufpa e deixou os palcos. Sei que existe a turma da Companhia do Moderno e outra que neste instante esqueço e que já se mostrou no Teatro Cuíra. Deve haver mais uma ou duas, mas todas enfrentando graves problemas de produção, espaço, patrocínio, tudo. A cena da dança fica praticamente circunscrita às apresentações de final de ano das escolas de Clara e Ana, feitas para milhões de pais filmarem delirantemente. Nada de artístico. É muito pouco.
A Dança, como o Teatro, sofreu muito com os doze anos de escuridão do governo tucano e a simples falta de qualquer iniciativa do governo petista. Bailarinos e atores precisam de tempo e lugar para pensar, ensaiar, conceber um espetáculo e local para se apresentar, não somente por um final de semana, mas por tempo suficiente para mostrar ao público, em Belém, no Pará e em outras cidades brasileiras.
O governo petista adorou a manobra de Simão Jatene, que ao deparar com a imposição do Governador AG em manter o Secretário de Cultura Paulo Fernandes no cargo, decidiu fatiar todos os cargos da área, de tal maneira a retirar seu poder. Assim, todos atiraram para todos os lados, menos o correto. Agora, acontece o mesmo. Por isso, IAP é Instituto da Punheta. Tudo o que propõe não resulta em nada. Não está ligado a nada. Assim como a Fundação Tancredo Neves, onde está Gerson Araújo, com formação de administração cultural, mas absolutamente preso à cadeira, sem verbas, nada, por conta de pertencer apenas a um Partido da base governamental. Nos livramos de um maluco que nos trouxe prejuízos gigantescos e agora temos um nada. A Cultura, aqui, se confunde com Lazer. E a Cultura, vem antes de tudo. De tudo. Sua ausência é determinante para a cena bárbara que assistimos.
Quanto ao programa da Companhia de Dança, não gostei. Dois primeiros números contemporâneos, mas sem apelo popular, extremamente técnicos, precisos, corretos, mas frios. Aí, quando vem o último, Tchaikovsky, clássico, é fácil gostar. Senti falta de algo mais Deborah Colker, Intrépida Troupe, e não sei se esses estudiosos acham isso muito popular, sei lá. Há dois paraenses no elenco, um deles solando especialmente em Belém, um dos números e sendo bastante aplaudido.
É preciso dizer que a Companhia é corretamente atacada pela galera da dança paulista. Ao contrário de ter uma política determinada para o setor e somente após criar sua própria Companhia, o Estado despeja um bom dinheiro aqui e não em programas para os artistas paulistas. Errado. Lembra os doze anos de escuridão, não?

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