Agora resta o silêncio. O vento
sopra uma brisa, as palmeiras se espreguiçam e o tempo desacelerou. Totalmente.
É como um quadro parado a se admirar. As ondas são mansas, já que não há mais a
necessidade de se exibir, quebrar espetacularmente. Não há mais razão para
nada. Ao fundo, talvez, o eco da horda que nos invadiu com sua alegria,
grosseria, estupidez e felicidade. Os últimos garis recolhem a monumental
sujeira que deixaram, maculando o paraíso que vieram visitar. O último carro de
veranistas sumiu no horizonte com caras cansadas, queimadas de sol, fartas. E
nós ficamos aqui. Os moradores preparam-se para entrar nas suas férias. Gozar o
dinheiro obtido em mil serviços prestados. Vai buscar um gás. Compra um cigarro
na esquina? O motor da bomba do poço parou, seu moço! Quero um peixinho frito
igual ao que o senhor levou ali, para aquela mesa. Escuta aqui, seu moço, não
tem um cigarrinho daqueles só pra dar um pega? Agora chegou nossa vez de ficar
jiboiando na rede, jogando conversa fora, afinal, o tempo parou por aqui.
Nos pátios das mansões agora a
areia desliza fácil, deixa pra limpar outro dia. Bicicletas amparam-se umas nas
outras, com saudades da garotada que as levavam a correr o mundo. As crianças,
feito um vendaval, levando à loucura as babás, correndo sem horizonte,
chapinhando na maré, murmurando sua linguagem, estou feliz! Estou feliz!
Percorro os caminhos, paro e
tento recriar no pensamento a galera em seus carros importados, desses que
vemos apenas na novela. As meninas, tão lindas, a pele sedosa, os cabelos, como
eu queria pegar naqueles cabelos, com essas minhas mãos ásperas. E de repente
lá vêm elas trôpegas, garrafas nas mãos e os rapazes com olhar de rapina,
prontos para dar o bote. O sol já nasceu e agora vão dormir. Mas já há quem
esteja surfando, aproveitando o dia. Invadem a cidade. Invadem nossa vida.
Circulam pelos nossos lugares. Não ficam somente na área de turistas. Puxam
papo. Querem tomar da nossa bebida. Disfarçam de fortes. Qual nada.
Sol alto e circulo entre os
carros. Quanto maior o carro, mais alto o som de sertanejo e baiano. Os caras
mais novos parecem fazer ferro o tempo todo. Musculosos. Não parecem dar bola
para as meninas, também musculosas. Sei não. Um grupo de coroas me chama. Fazem
os pedidos. Aproveitam para me encarar. Ficam de segredinhos. Eu sei o que é.
Os maridos vêm apenas no fim de semana. Já rolou comigo. Parei porque não vou
querer rolo com nenhum doutor desses.
Vou na Barraca do Onofre. Ele
está atrás do balcão, queixo apoiado, olhando o infinito. A areia que o vento
vai espalhando. O silêncio. O oposto de antes. Entra e sai. Quem dança. Quem
bebe. Quem paquera. E aquela Hilux que atolou? Lembra? O desespero do cara..
Levou a gata pro mato, descuidou, a maré veio e baubau. Ajuda aí, pelo amor de
Deus! Ainda não acabei de pagar! A gente ajuda, mas sabe que não adianta. Vai
brincar com a natureza..
Sou caseiro do Seu Luciano. Um
cara legal. A mulher é que é chata. Grita por tudo. Quer humilhar. Só faço
quando quero. Ela que espere. Não tem outro. E tem a filha do Seu Luciano. De
noite eu penso nela. Com todo respeito.
Ando a esmo, sem destino. Me
embalo na rede no imenso pátio do Seu Luciano. Agora, só volta pra Semana da
Pátria. Pode deixar. Aqui tá tudo dominado. Nao acontece nada nesse meu lugar.
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