Quando
chegamos àquele casarão datado de 1905, havia apenas prostitutas por ali, a
maioria com mais de 40 anos, essas, com clientes certos, tiozinhos que recebem
a aposentaria e vão em busca de sexo. Fizemos amizade. Em nosso primeiro
espetáculo, ali, metade do elenco era formado por essas mulheres. Outras ações
se desenvolveram. Então chegaram os drogaditos, com a terrível droga. É pasta
de cocaína, sub produto, misturado a tudo o que não presta e vendido em
pequenas quantidades, uma dose. Expulsaram a maioria das prostitutas e viciaram
outras. Passam o dia por ali, saindo para pequenos furtos na Presidente Vargas.
O crack vem das mais diversas formas, mas sobretudo por motoqueiros usando
colete de mototaxistas e algumas figuras, que distribuem entre si, diminuindo a
quantidade, as mulheres escondendo nas partes íntimas. A Polícia vai até lá,
coloca todos com as mãos na parede, mas raras vezes tem êxito, não sei a razão.
Um sábado desses, assisto a um dos programas da RBA e a reportagem acompanha a
Polícia em um flagrante. Filmam uma mulher, magrinha, pequena, distribuindo.
Ela é detida após um pequeno escândalo. O programa deve ter sido gravado na
véspera ou antevéspera. Corro à janela, olho para baixo e lá está ela,
lampeira, tranquila, distribuindo seu produto. Os policiais dizem que não é uma
questão policial e sim, social. Realmente, sobra para a Polícia. Quando ela
aparece, eles correm para a Praça da República, onde ficam achacando babás,
crianças, namorados e atletas. Ou então às proximidades das Lojas Americanas.
Na outra esquina da Primeiro de Março com Riachuelo, onde era o Bar Guanabara,
funciona um PF, somente para o almoço. No horário, várias viaturas da Polícia
estacionam para fazer refeição. Não dá para entender. Não, não temos problemas
com os drogaditos. A palavra mágica é “Teatro”. Abrem os caminhos, pedem
desculpas pela sujeira, no que são ajudados pela loja Gripon, que joga denso
lixo, todos os dias, da maneira mais cretina possível. Nas noites de
espetáculo, também não há risco para o público. Eles dão importância ao Teatro,
provavelmente mais importância que dão a Prefeitura, o Governo do Estado.
Agora, estão ocupando a Riachuelo, no primeiro quarteirão, laterais dos
edifícios Renascença e Piedade, dois dos mais antigos da cidade. Passam os dias
e noites deitados em velhos colchões, se arengando, esperando pela próxima
liga. Moradores das redondezas já usaram de todos os argumentos para receber
ajuda e nada. Eles parecem tão fortes quanto os ambulantes que infestam e
degradam as ruas do antigo comércio. O que pode ser feito? É no centro da
cidade.
Nos
prédios, suas imprecações, palavrões, agressões, na disputa pela droga, são
ouvidos claramente, a qualquer hora do dia e noite, sem descanso. E o IPTU é
alto, bem alto. Bem, este é mais um grito que espera, desta vez, ser ouvido.
Será que a Prefeitura se liga?
Nenhum comentário:
Postar um comentário