“Like
a Rolling Stone” tornou-se a grande canção dos anos 70. Creio que, para
retratar uma época, somente os Beatles com “A Day In Life”, e “Purple Haze”,
com Hendrix.
Eu
estava andando pelas ruas de San Francisco, procurando uma loja de discos,
encerrados os compromissos de uma viagem. No bolso do paletó, um radio e no
ouvido, os fones. De repente, Bob Dylan canta “Like a Rolling Stone”, me
causando euforia, uma identificação que me emocionou. “Como você se sente, só
consigo mesmo, sem casa para ir, como um completo desconhecido, você está
invisível agora, como uma pedra rolante”. Tudo encaixou.
Estou
lendo o livro “Bob Dylan na encruzilhada”, autoria de Greil Marcus. A letra é
cantada como quem se vinga, diz umas verdades a uma mulher, que até então pensava
ter o mundo a seus pés e agora precisa batalhar por comida. Dizem que foi feita
para Edie Sedgwick, musa de Andy Warhol, com quem namorou um tempo. “Era tão
exibida, não falava com pobres e agora quer fazer um trato com um traficante. Tire
seu anel de diamantes, melhor botar no prego, baby. Vá procurar o dealer, ele
está chamando, vai fazer uma oferta que você não pode recusar. Quando você não
tem nada, não tem nada a perder”.
Há várias
leituras. Greil argumenta a respeito da política americana, morte de Kennedy,
Lyndon Johnson, Nixon. Martin Luther King, direitos humanos, racismo Guerra do
Vietnã e o grito dos jovens que agora, despindo a sociedade careta,
conservadora, expunha o verdadeiro mundo, quebrando os sonhos bobocas e
querendo a verdade, como disse John Lennon em “All I Want Is The Truth”.
Na
gravação, Al Kooper toca o maravilhoso órgão, enquanto Dylan está na guitarra
ritmo e na gaita de boca matadora que entra no final. Na gravação dos Stones,
Mick Jagger arrebenta. E assim é um dos maiores momentos da música pop mundial.
Para
mim, “Like a Rolling Stone” significa liberdade, sem compromissos, você ligado
apenas ao que quiser fazer. Como quando estou por outras cidades do mundo,
invisível, sem horários para reunir com este, telefonar para aquele, encontrar
com outros, as tarefas do nosso dia a dia. Caminhando em San Francisco, naquele
dia, by myself, eu cantei a plenos pulmões “Like a Rolling Stone”.
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