quinta-feira, 14 de agosto de 2014

LIKE A ROLLING STONE

Eu já trabalhava na Rádio Clube do Pará e tinha ouvido na discoteca os primeiros discos de Bob Dylan, entre eles, “Highway 61 Revisited, que continha a emblemática “Like a Rolling Stone”. Mas meu inglês ainda não tinha nível e eu não compreendia as letras. E olha que já havia passado cinco anos de sua gravação. Na época, os Beatles estavam entre os primeiros nas paradas com “Eight Days A Week” e os Rolling Stones, logo depois, viriam com “Satisfaction”. Mas então, em 1971, entrei na boate “Papa Jimi”, para conversar com meu amigo Ivan Novais, que era discotecário e lá, em meio a um monte de discos, encontrei “Jimi Hendrix e Otis Redding em Monterrey”, um festival na California que antecedeu Woodstock. Um lado para cada um. E vem Hendrix, indicado por Paul McCartney “tem um negão muito bom que está estraçalhando a guitarra aqui em Londres”, e abre o show, dizendo, timidamente, vou começar mostrando a vocês um som de Bob Dylan. Jimi tinha ido como desconhecido para a Inglaterra e agora retornava à pátria para conquista-la. E abre com “Like a Rolling Stone, versão devastadora. E tudo foi clareando. A letra, melodia e até hoje eu sofro para considerar qual a melhor versão. E olha que os Rolling Stones também a gravaram ao vivo, de maneira sensacional.
“Like a Rolling Stone” tornou-se a grande canção dos anos 70. Creio que, para retratar uma época, somente os Beatles com “A Day In Life”, e “Purple Haze”, com Hendrix.
Eu estava andando pelas ruas de San Francisco, procurando uma loja de discos, encerrados os compromissos de uma viagem. No bolso do paletó, um radio e no ouvido, os fones. De repente, Bob Dylan canta “Like a Rolling Stone”, me causando euforia, uma identificação que me emocionou. “Como você se sente, só consigo mesmo, sem casa para ir, como um completo desconhecido, você está invisível agora, como uma pedra rolante”. Tudo encaixou.
Estou lendo o livro “Bob Dylan na encruzilhada”, autoria de Greil Marcus. A letra é cantada como quem se vinga, diz umas verdades a uma mulher, que até então pensava ter o mundo a seus pés e agora precisa batalhar por comida. Dizem que foi feita para Edie Sedgwick, musa de Andy Warhol, com quem namorou um tempo. “Era tão exibida, não falava com pobres e agora quer fazer um trato com um traficante. Tire seu anel de diamantes, melhor botar no prego, baby. Vá procurar o dealer, ele está chamando, vai fazer uma oferta que você não pode recusar. Quando você não tem nada, não tem nada a perder”.
Há várias leituras. Greil argumenta a respeito da política americana, morte de Kennedy, Lyndon Johnson, Nixon. Martin Luther King, direitos humanos, racismo Guerra do Vietnã e o grito dos jovens que agora, despindo a sociedade careta, conservadora, expunha o verdadeiro mundo, quebrando os sonhos bobocas e querendo a verdade, como disse John Lennon em “All I Want Is The Truth”.
Na gravação, Al Kooper toca o maravilhoso órgão, enquanto Dylan está na guitarra ritmo e na gaita de boca matadora que entra no final. Na gravação dos Stones, Mick Jagger arrebenta. E assim é um dos maiores momentos da música pop mundial.

Para mim, “Like a Rolling Stone” significa liberdade, sem compromissos, você ligado apenas ao que quiser fazer. Como quando estou por outras cidades do mundo, invisível, sem horários para reunir com este, telefonar para aquele, encontrar com outros, as tarefas do nosso dia a dia. Caminhando em San Francisco, naquele dia, by myself, eu cantei a plenos pulmões “Like a Rolling Stone”.

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