Meu avô Edgar recebia o Luxor Jornal, uma
organização que semanalmente coletava notícias do interesse do assinante,
recortava e pregava em uma folha de papel pequena. A capa era cor de rosa. Meu
avô era alucinado por notícia. Escreveu em vários jornais da cidade. As
notícias ficavam por ali, flanando sobre as mesas da sala do apartamento onde
ele morava, no décimo andar do Palácio do Rádio. Me interessei. Talvez
inicialmente, nas folhas de papel para transformar em flechas para zarabatana.
Depois, os assuntos. Esporte, amenidades, música. Para Política, era ainda
muito moleque.
Meu pai Edyr também escreveu em vários jornais.
Chegava em casa com os da cidade e também os do Rio de Janeiro, como Globo,
Jornal do Brasil, Última Hora e Jornal dos Sports, um que era impresso em papel
cor de rosa, com espaço para À Sombra das Chuteiras Imortais, de Nelson
Rodrigues e o Otelo Caçador, com sátiras aos acontecimentos esportivos. Eu e
meu irmão Edgar devorávamos aquilo. Tínhamos um campeonato carioca de botão.
Sabíamos até a escalação do Canto do Rio. Quem? E desvendar as imagens
poderosas de Nelson. Compreender sua sutileza, a poesia, a melodia com que
escrevia. E principalmente, Opinião Não Se Discute, o comentário de meu pai,
para saber o que se passava com nossos times locais. O tempo passou, meu pai
agora apenas escrevia sua coluna, sem mais estar no dia a dia, como editor, mas
o interesse por jornais continuava. O saudoso Edwaldo Martins ajudou. Viciado
em informação, como eu, lia diariamente não só JB e Globo, mas Estadão e Folha,
às vezes incluindo a Folha da Tarde. Era informação suficiente para afogar
qualquer um. E lá eu ia, uma vez por semana, à sala do Didi, no Basa, pegar os
jornais. Aquele maço enorme de papeis. Quando viajava para Rio ou SP, a delícia
era pegar o jornal ainda quentinho, o cheiro, as notícias ali, na hora. Até
poder comprar, eu mesmo, os meus jornais. Veio a modernidade e com ela foi-se o
maravilhoso e inesquecível Jornal do Brasil, hoje apenas no formato digital
(mesmo assim leio-o diariamente), e foram-se das bancas, os demais. Atualmente,
a Folha tem aparecido. Hoje, fora os jornais locais, leio todos os outros no
computador. Acostumei. O mundo mudou. Os jornais, também. Afinal, se ontem caiu
uma bomba em Gaza, ao ler hoje de manhã a notícia, já estará atrasado quanto
aos acontecimentos posteriores, já descobertos, explicados e com novos fatos.
Há poucos dias houve um Congresso de Jornais. Mudam as plataformas, ficam as
notícias. Fica a nota curta. Fica a explicação, interpretação, análises para
quem quer realmente saber tudo. Notas curtas para os apressados, disputando com
radio e televisão. Quais são as plataformas novas? Ipads, tablets, whatsup,
smartphones, e-books, telões, telas em elevadores, facebook, twitter e outros
programas. Não interessa a plataforma e sim a notícia. Os jornais estão se
adaptando e as agências de publicidade também. Antigamente, o IVC era definitivo
quanto à tiragem dos jornais. Agora, há pageviews, comentários, curtições, definindo,
cada um, seu público, seus interesses e padrões de consumo. Será que essa
amarração significará alguma perda para os leitores? Imperará a informação
domesticada? Ou, com a invasão de blogs, tudo dependerá da credibilidade de
quem veicula? Em quanto tempo uma informação circulará pelo mundo e quantas
pessoas atingirá, sobretudo agora em que há apps para traduzir em qualquer
língua, o que quer que se leia?
Aos que pensaram que os jornais iriam morrer,
uma boa resposta, esta, com aquilo que é a material prima do jornalismo, que é
a notícia.
Quanto a mim, sou um leitor alucinado por
informação. E posso ser lido, todas as sextas, no caderno TDB, coluna “Cesta”.
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