Espero
que neste domingo todos possam abraçar seus pais e dizer o quanto os amam. Eu,
que sou pai, não tenho mais o meu, presente, fisicamente. Mas quanto eu
gostaria de dizer-lhe “eu te amo”. E pai nem precisa ser biológico e sim aquele
que cria, encaminha, ensina, dá diretrizes de vida. Nem eu, nem meus irmãos
sofremos por ter nomes de nosso pai e nossos avós. Minha mãe acrescentou
Augusto, para evitar os “Filho e Neto”. Como foi grande esse meu pai! Crianças,
pouco podíamos conviver, tantos seus empregos para nos garantir a melhor
Educação. Aos poucos, passei a frequentar os campos de futebol em sua
companhia. Aprendendo os segredos, a postura. Depois, até nas “peladas”
estávamos juntos. Aprendendo, sempre. Quando adolescemos, foi como se ele
também voltasse na idade, discutindo os assuntos, incluindo-nos em tudo. Voltou
a tocar violão, ele que na mocidade fez parte de grupo musical famoso. Sua
primeira parceria foi comigo, nesta fase. Depois o Edgar veio com o
ressurgimento do Quem São Eles. Fiz a letra, ele a música e vencemos o festival
de samba enredo. O jornalista agora comentava para o rádio, jornal e até
televisão. Escreveu livros. Comprou um computador. E contava piadas. Como
contava! A ida e a volta ao Palácio do Rádio durava horas, pois parava de dez
em dez metros para encontrar amigos e celebrar a vida. Adorava o Círio de
Nazaré. A casa enchia de amigos. Bebida, somente após a Santa passar. E vinham
os violões e virava festa. Gravou discos com sua obra. Juntou-se a companheiros
de seresta, formaram um grupo. Mais discos e show. Meu pai, no palco. Também
fazia dupla com minha mãe. Muitas parcerias.
Não
era caloroso nos gestos. Tomava-lhe a benção em datas importantes. Falava com os
olhos. Assistia minhas estreias nos teatros, lia meus livros. Não era bem a
praia dele, que preferia a música, mas dava força. Sabia que era importante.
Aposentado, passava em minha sala nos finais da manhã para botar a conversa em
dia. Às vezes vinha com amigos que após sua morte continuaram frequentando a
sala e recebendo a mesma atenção. Era um mestre da palavra. Gostava da
harmonia, talvez seu segredo para ser tão admirado no mundo competitivo do
futebol. Formou equipes inteiras de radialistas que até hoje continuam seu
trabalho, mantendo a mesma seriedade.
Sinto
sua ausência física. Nós o perdemos repentinamente. Ele ainda tinha muito a
dar. Penso nele o tempo todo. Consulto-o a cada instante. Como ele agiria?
Passo nas esquinas pelas quais caminhava todos os dias e o vejo contando suas
anedotas, ao final, batendo no ombro do ouvinte, gargalhando.
Às
vésperas de seu falecimento, quando já não se comunicava, me despedi. Fiz o que
nunca havia feito antes. Passei a mão nos seus cabelos, fiz um carinho e disse
adeus. Ele foi um gigante para mim. Levo seu nome com muito orgulho, apesar de
não conseguir chegar a seus pés. Escrevo em prantos. Neste domingo, estarei com
ele em pensamento. Não o tenho mais aqui. Mas se vocês tiverem pai, biológico
ou não, façam como faço com meus filhos e neto. Beijem e digam que o amam. Eu
te amo Edyr Paiva Proença.
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