sexta-feira, 29 de março de 2019

BIBLIOTECAS VIVAS

Leio que acaba de ser nomeada para uma das grandes bibliotecas públicas de São Paulo, alguém que até há pouco estava na organização da Flip. Em seu primeiro pronunciamento e atendendo orientação de sua autoridade superior, planeja dar vida intensa à biblioteca. Nem todos parecem perceber que elas não são depósito de livros, um cemitério, talvez, à espera somente de interessados em pesquisar. Trata-se de um lugar onde a vida literária deve ser a maior. Lugar onde escritores, editores e leitores se encontram para diversas atividades, entre palestras, oficinas, lançamentos, discussões e claro, pesquisa.
Sou um escritor. Posso dizer isso após 16 livros lançados, quatro deles traduzidos e lançados na França, entre outros países. Tenho orgulho em acrescentar que já estive duas vezes na Sorbonne, Paris, a primeira para falar na Bilipo, Biblioteca de Livros Policiais, a segunda para uma turma avançada de Estudos Lusófonos. Estive, recentemente na Biblioteca Pública de Curitiba e fiquei maravilhado com o trabalho desenvolvido ali. Aqui em Belém, minha cidade natal, para a Biblioteca Pública do Estado, sou um desconhecido. Não somente eu mas diversos outros colegas. Ou é preguiça,  ou ignorância, o que desqualifica pessoas que imagino, sejam formadas em Biblioteconomia. Nunca participei da Feira/Farsa de Literatura, até o ano passado promovida pelo sectário de Cultura. Sim, estive por duas vezes lá, a primeira convidado pela Editora da Universidade, a segunda pela Aliança Francesa. Eventos paralelos. Nem por isso, claro. Com outros colegas que sentem a mesma coisa, passamos a realizar a Feira Literária do Pará, com apoio da Livraria Fox e Editora Empíreo. Decidimos fazer por nós. Foda-se. Fazemos porque queremos e não temos verba pública nem particular de ninguém. Agora deu cria, com a Feira de Livros Infantis.

A nova gestão da Secult já iniciou trabalhos. Sei perfeitamente que nestes primeiros meses tratará de se virar com o orçamento planejado pelo sectário passado. Me interessam as idéias. Uma nova feira literária já foi anunciada. Talvez me incomode que em todas as ações, procurem atingir comunidades e associações de todos os tipos, mas não falem nos artistas. Músicos, Atores, Escritores, enfim. A divisão de administração entre a Secult e a Fundação Tancredo Neves (foda-se o novo nome), foi mais um crime do sectário. Criou uma série de órgãos independentes uns dos outros. Cada um atira para o seu lado e ninguém acerta o alvo. Sim, acho que a direção do Waldemar Henrique deve caber a alguém das Artes Cênicas e pronto. Chega de bem intencionados. As coisas não iam mudar? Por enquanto, sei não. Mas voltando à Biblioteca, onde nunca estive como escritor, já que durante mais de vinte anos fui (ainda serei?) persona non grata, quando os escritores vão ser chamados ao menos para conversar? Nós, que durante mais de vinte anos continuamos lutando por conta própria, realizando a Flip, passamos a ser os novos indesejados? A Biblioteca apenas para visitas de estudantes e alguns pesquisadores, lutando contra aparelhos defasados? Há de haver difusão dos escritores atuais em todo o Estado; relançamento de livros importantes; lançamento de novos escritores. Ainda não sei quais são os planos. Não sei sequer o nome da diretora da Biblioteca Arthur Vianna, nem do setor de Literatura. O que era péssimo, vai piorar?

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