sexta-feira, 8 de março de 2019

CIDADE TRISTE

Domingo, segunda gorda, passeio pela cidade e encontro, quando muito, grupos de até quinze pessoas, talvez, cantando e dançando em blocos de sujos. Me disseram que no Ver o Rio havia uma concentração. E que os Filhos da Glande também reuniram ali na Praça das Mercês. Na televisão, Recife, Salvador, Rio e São Paulo têm as ruas cheias de gente feliz, vestindo qualquer coisa, cercada de amigos dançando e cantando carnaval. Na segunda de manhã, Ipanema, mães e seus filhotes, dançando. Olho para nossas ruas vazias e penso onde foi parar nossa alegria. Tenho uma foto em p&b, antiga, quase apagada, onde meu pai e amigos, na carroceria de um caminhão, fantasiados de anjos, curtiam o tal período momesco. Eram os “anjos de cara suja”. Ali nos anos 70, havia pouca gente nas ruas, fora dos desfiles oficiais. Criança, na Praça da República, entrei em pânico ao ouvir os gritos de guerra dos “peles vermelhas”, que chegavam. Havia também aquele fantasiado de gorila que metia medo em todos. O Doutor Passa o Pau, tantos personagens! De repente, na lanchonete Stop, ali no Largo de Nazaré, passou a reunir uma turma que se auto denominou Bandalheira. Eram todos muito jovens. Um amigo era da “diretoria” e me chamou. Lá fui eu e mais dois irmãos. Já no primeiro domingo de janeiro, começamos a percorrer as ruas do centro, acompanhados por uma bandinha. A verdade é que em poucos domingos depois, muitos outros blocos, cada um com o nome mais criativo, se puseram nas ruas, cantando, dançando e sendo feliz. O ponto principal era a Presidente Vargas. Próximo ao carnaval, até as Escolas de Samba decidiram também passar pelo circuito, mesmo sem fantasias, apenas para participar da brincadeira. Lembro que em janeiro de 1985, véspera de estrear “Angelim, o Outro Lado da Cabanagem”, no Teatro da Paz, atravessei uma Praça da República lotada de pessoas que, sem participar especificamente de qualquer agremiação, aguardavam por sua passagem para simplesmente se divertir. Como era bom! Mas então alguém sugeriu que os blocos participassem do desfile oficial, concorrendo na categoria específica a um troféu. Pronto. Um clima de competição surgiu, acirrando diferenças. Ninguém mais saía aos domingos para não estragar a fantasia e a cidade voltou a ficar deserta. Então veio uma criatura nefasta que ocupou a Secretaria de Cultura. Ao mesmo tempo, a Prefeitura manteve-se absolutamente distante de qualquer coisa chamada Cultura, ficando apenas com o concurso de quadrilhas juninas. Um prefeito construiu um sambódromo. Não acho um bom local, mas lá ele está. Por questões políticas, chegaram a fazer o desfile em Ananindeua. Os blocos sumiram. As escolas foram dominadas por politiquinhos rastaqueras. Recentemente, gente fina criou novamente blocos. Para ficar parecido com Olinda, foram para a Cidade Velha. Para não atrapalhar a ida para Salinas, brincam dois ou três domingos antes. Pior, o desfile oficial de Escolas de Samba também acontece uma semana antes do carnaval. Para não atrapalhar quem? Carnaval é a festa do povo. Deixa o pessoal do “carnaself” fazer o que quiser, mas carnaval é pra quem não tem dinheiro pra abadás e weekends. Murchou, sei lá, murchou. É tristeza? Mais um ja teve? Um povo machucado, sem alegria. A chuva? Os assaltos e assassinatos? Belém virou uma tristeza no carnaval. Tenho tantas idéias para reativar nosso carnaval mas ninguém quer ouvir. Que pena.

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