quinta-feira, 24 de maio de 2012

Como era bom!


Será que passou tanto tempo assim? As equipes trabalharam o dia inteiro. À noite, liberaram a pista e todos os moradores desceram para pisar no asfalto, passear.  Os garotos como eu, de bicicleta, na Presidente Vargas. Sem carros, sem paralelepípedos, o vento batendo no rosto em disparada. O ano? Talvez os 60 tivessem começado. A Praça da República era meu playground. Havia tempo de pião, peteca, cemitério e principalmente, tranca com bicicleta, habilidade em que me tornei expert, com uma Caloi vermelha. A cidade desfilava na frente do Edifício Renascença, onde a família morava. No carnaval, desde cedo, passavam os malandros em paletós vermelhos, calça, sapatos brancos e chapéus dos Boêmios da Campina. Era o máximo! No Dia da Raça, desfilava garboso pelo Colégio de Nazaré, enfrentando o principal concorrente, Colégio do Carmo. No térreo havia a Salevy, uma espécie de shopping nos dias de hoje. No mês de dezembro, barraquinhas na calçada e a chegada do Papai Noel, de helicóptero. O “Buraco” era um senhor que fazia as vezes de “bom velhinho”. Chegava cedo e ia para o último andar. Depois, ia descendo, entrando nos apartamentos, atirando bombons para a multidão lá embaixo. Chegou em casa. Meu irmão mais velho veio informar: Papai Noel conhece o papai. Até pediu uma dose de whisky! Papai Noel bebe? As férias eram no Lago Azul ou Mosqueiro. Hoje, o Lago é um condomínio de luxo, cercado por conjuntos habitacionais de baixa renda. A cidade engoliu, aquilo que achávamos distante. E o Mosqueiro antes da ponte? Todos iam no Presidente Vargas, navio de construção holandesa, que navegara antes no Mediterrâneo. Será? A aventura começava no Galpão Mosqueiro Soure e terminava com vaias e aplausos da juventude que se divertia na Vila. Havia carregadores como o “Sete” e carros ingleses de aluguel que levaram as famílias. Cecy era um deles. A energia elétrica ia até dez horas da noite. Depois, na base do candeeiro. De dia, praia, papagaio para cortar e aparar, “jacaré” em pranchas de madeira, varinhas entalhadas, bolas de seringa e picolés de Karo. Biá, que nos criou, me levava para assistir ao seriado de Billy Elliott, no Paramazon, cinema que ficava na Piedade, com cadeiras de madeira e ventiladores. Ia pela rua com meu chapéu, revolveres abastecidos de espoleta e voltava cansado, esbaforido e sem munição. Havia o Olímpia, onde assisti “Woodstock” “A Piscina” e “Romeu e Julieta”. Também era Palácio, palco de grandes emoções, romances e inspiração. Era uma sexta feira gorda de carnaval e passava “McBeth”, de Polanski, dez da noite. Inesquecível. Os bailes eram sempre lotados. A garotada com olhar de lobos famintos ficava em volta, assistindo as meninas passarem cantando marchinhas. Aos domingos havia a “pipoca dançante”, até as dez. Tão cedo! Alguns dançavam a noite toda. Outros, bebiam. Havia os que ficavam pensando, matutando, planejando a abordagem e quando se decidiam, acabava a festa. Dançavam juntos. Rosto colado era começo de compromisso. E tudo acontecia na Presidente Vargas. Em frente ao Palácio do Rádio, havia o Vesúvio, a mais famosa mercearia da cidade. Ao lado, uma barbearia clássica, espelhada, cadeiras niqueladas, barbeiros de bigodões e a nossa eterna perlenga para nos deixarem crescer os cabelos. Ainda peguei Alberto Mota e Orlando Pereira com seus grupos, os Namorados Tropicais e Sayonara. Agora, além das novelas da Rádio Clube, principalmente “Jerônimo, o herói do sertão”, havia a Tv Marajoara, onde assistíamos Os Intocáveis. Bem, às vezes, após muita argumentação, permitiam que assistisse, por conta da idade. Coisa chata. Nequinho e Alecrim eram os dois palhaços. O já saudoso Armando Pinho. Cláudio Barradas e as novelas. Os comerciais. Pierre Show, Pierre Show, Pierre sensacional! Como era bom. A Copa do Mundo no Chile passou depois em película, patrocínio do Banco Novo Mundo. Meu avô me adorava. Quando me dei por gente, ele já não era o tycoon que havia sido. Me chamava de sua “miniatura”, por eu ser baixinho, magro e cabeçudo. Andava do Renascença ao Palácio do Rádio cumprimentando e sendo cumprimentado. Depois, meu pai faria o mesmo. Hoje, eu. Será que passou tanto tempo assim?

4 comentários:

Jornal do Feio disse...

Amigão,

eu era o locutor-mirim da "Hora do Garoto Sabido", transmitido todos domingos, às 9 horas diretamente do mini-auditório da Aldeia do Rádio do Jurunas, sob o comando de Mário Barradas - misto de radio-ator e animador-, sob o patrocínio das Perfumarias Myrta S.A, fabricante do inigualável sabonete Eucalol.
Muito bom o seu comentário;
Alô Bern, alô

ILIKE CHOPIN disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ILIKE CHOPIN disse...

Fora do contexto::Por que não configura sua layout,as letras brancas entram em constraste com a pagina preta, embaralhando a visão?

ILIKE CHOPIN disse...

Sinto uma excessiva sensibilidade no tocante ao seu passado.Vive uma nostalgia boa, por que foram tempos primorosos. Felizes e único.
Ma s como sempre um mundo muito diferente do comum.Até sue Papai Noel consegue ser , totalmente diferente a visão(imaginável) de outras crianças. Vem de helicoptero e toma wisk.
E o Mosqueiro ficou feio com o conjunto de baixa renda.?