segunda-feira, 14 de maio de 2012

Domingo blue

Foi uma desgraça, com todos os seus elementos. Dia das Mães, campo lotado, adversário sem tradição, pronto para ser derrotado honrosamente. Em cinco minutos, bem no finalzinho do jogo, como um ápice, tudo pegou fogo. O Cametá empatou com o Remo e sagrou-se campeão paraense. Simples? Não.
Nossa atividade profissional de futebol está falida. Apesar de uma grande imprensa, lutando para, no mínimo, manter os empregos, os dirigentes, sejam dos clubes ou da federação, insistem em empurrar tudo para o buraco negro. Tudo é semi amador, com os principais clubes, um na terceira divisão e o outro, sem nenhuma. Mesmo assim, gastam até 500 mil reais por mês com "jogadores". Nada é investido na formação de atletas e os que, contra tudo e todos conseguem surgir, são cobrados de maneira cruel, sucumbindo diante de tanta pressão. E no entanto, lotamos estádios, em jogos de uma torcida apenas!
A vitória consecutiva de um clube do interior infelizmente não quer dizer nenhuma melhora no nível. Nada disso. A equipe que venceu o Remo é formada por veteranos e enjeitados. Não tem infra estrutura alguma. O Estado grande como um país, com uma população tão apaixonada, continua à mercê de incompetentes que não percebem ou não querem sequer imitar o que acontece em outras praças, ganhando dinheiro, promovendo, espalhando, tirando até dividendos políticos. Jogam em simulacros de gramados, mas lotados, com equipes montadas de última hora. Mas na hora precisa, foram esses homens que ganham mal, machucados, humilhados, diante de 40 mil pessoas, que botaram o coração acima de tudo e venceram. Quanto aos azulinos, de nada adiante lamentar cartões amarelos de um Fábio ou de um Marciano. A culpa é de quem acreditou neles, veteranos, derrotados, sem aquela liga da vitória que sobrou em um Soares. No mesmo dia, em Porto Alegre, o Internacional, na decisão gaúcha, saiu atrás, perdeu pênalti, mas virou e venceu, mostrando o peso da camisa, empurrado pela torcida e acima de tudo, pela flama de vencedor. O que houve com o Remo naqueles minutos em que resolveu encolher-se na defesa? Permitiu um último fôlego, uma última carga do Cametá, aceitando a virada, puro medo, pernas frouxas, diante de uma torcida, esta sim, que foi agredida, humilhada pela falta de hombridade de seus atletas. O quanto valia a vitória para o Remo? O título, a vaga na Quarta Divisão, um título em quatro anos, atividade profissional no segundo semestre. Nada disso fez sentido para esse bando de jogadores que passam a carreira sendo derrotados, de clube em clube, sem criar vínculo, ou dos garotos apavorados, cobrados, mas sem a força para reagir e enfim, passar à maturidade.
No momento do belo gol de falta de Soares, só não houve um silêncio ensurdecedor como o ouvido no Maracanã, 1950, Copa do Mundo, Brasil x Uruguai, porque os mirrados cametaenses e naturalmente os torcedores bicolores fizeram barulho. Uma desgraça. Com 2 a 0 no placar, planos eram feitos, remistas abraçavam-se aliviados e no entanto, dentro de campo, nada estava decidido. Foi uma vergonha.
Agora, fora de questões clubísticas, a derrota remista é mais um degrau que o futebol paraense desce rumo ao amadorismo. Na véspera, a equipe do Paysandu, completa, prestes a iniciar a Segunda Divisão, na presença de seu novo técnico, perdeu jogando fora de casa para o Nacional de Manaus. O Nacional de Manaus, que pior que o Pará, já é praticamente amador? Pois é.
Foi um domingo blues. Uma melancolia me tomou quando tudo foi consumado. Mesmo as gozações foram fracas. Os outros perceberam a desgraça, a tragédia que ocorreu. Ou a tragédia que lhes acompanha, também, nos calcanhares. Que pena.

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