terça-feira, 22 de maio de 2012

Minha primeira professora de inglês

Na subida da Presidente Vargas, onde hoje está um monstrengo da Caixa Econômica, ficava um dos primeiros prédios da cidade, edifício de uns três a quatro andares, de arquitetura inglesa, onde funcionavam o escritório da Booth Line e o consulado da Inglaterra. Resquícios  do tempo da borracha, de Belém como cidade portuária, contando com mais de 30 consulados funcionando. A Booth Line ainda é, creio, uma das mais atuantes companhias de carga de navios. O cônsul era Mr. Bolivar Kup, casado com a maranhense Iara Kup. Certamente foram as relações de meu avô, ou de meus irmãos mais velhos, no colégio, fazendo amizade com os filhos, não lembro a ordem, mas eram Rosy, Maria Elissa, Helena Beatriz e Eduardo. Houve algumas visitas nossas ao apartamento, no último andar do edifício. Almoços, o quarto de Eduardo com miniaturas de carros, aviões, essas coisas de meninos. E então a idéia de aprender inglês com Helena Beatriz, a quem chamava apenas de Beatriz. Talvez fosse para ela, uma diversão, um passatempo interessante. Talvez minha mãe quisesse que as relações se intensificassem, afinal, eram representantes da Inglaterra em Belém. Sei lá. A mim não interessava. Baixinho, magro, feio e cabeçudo, eu ia até seu apartamento para ter aulas. Será que ainda descubro onde estão meus cadernos? Linda, com um narizinho arrebitado e sardas, esguia e claro que me apaixonei, como toda criança, Beatriz também era inteligente e soube como conquistar minha atenção, seja me fazendo desenhar, decorar estórias, cantar canções, de tal forma que ainda hoje, lembro delas. Infelizmente, posto à prova, em um jantar, na presença de diversas autoridades, eu a deixei em apuros. Chamou o pai para apresentar seu aluno e este, perguntou "How do you do?" ao que, encabulado, tartamudeei apenas "ainda não dei isso".. Desculpe, Beatriz. Até hoje lembro disso. No entanto, também, hoje, sei que lhe devo muito. A paixão pela língua inglesa me fez seguir adiante e hoje, falo fluentemente, dela fazendo uso diário e tranquilo, com muito orgulho. E sim, tenho muito orgulho de ter iniciado o aprendizado com você. E sim, sinto muita falta porque em determinado momento, a família sumiu, evaporou. Agora lembro, havia uma casa na esquina da Mundurucus com Rui Barbosa, talvez. Casa com piscina. Lá brinquei, também, em algum sábado ou domingo, convidado por minha bela teacher. Como sumiram? Como deixei isso acontecer, atarefado, talvez em crescer, adolescer e a explosão daqueles anos 60 e 70. Tenho a impressão que um dia, véspera do lançamento de algum livro meu ela esteve em Belém e ligou para a casa de minha mãe. Ao que parece, morava no Rio de Janeiro. Mas nem assim obtive um contato mais efetivo.
Gostaria de rever minha professora. Ela foi brutalmente importante para minha formação por sua leveza, educação, cultura e inteligência. E como era linda, suave, fresca em sua beleza adolescente! Nunca vou esquecer. Hoje surgiu em meu facebook a mensagem que Helena Beatriz Kup Pereira da Silva me adicionou como amigo. Como assim? Fiz uma busca, bem tosca, porque não sou muito hábil nisso e não encontrei. Onde você estiver, Beatriz, saiba que nunca esqueci de você.

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