segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A volta da feira calhorda

Vai começar mais uma edição da Feira calhorda, a tal Pan Amazônica de Livros. Trará famosos escritores que darão palestras, autógrafos, serão bem ciceroneados e voltarão para casa encantados com o Pará. O relatório dirá que teve a visita de um público recorde, até porque também um bom número de artistas da música foi contratado para se apresentar gratuitamente. Enfim, um sucesso retumbante. Então porque será que sou do contra? Porque desejo desafinar o côro dos contentes? Sim, sou suspeito. Durante o governo tucano, nada que tivesse meu nome, seja em livro ou peça de teatro, poderia ser contratado. O mesmo procedimento continuou no governo petista, talvez porque a equipe da feira, imagino, tenha sido mantida. Mas leiam meus argumentos e tirem conclusões.
Nada tenho contra Feiras de Livro, Bienais, nada mesmo. São iniciativas que visam concentrar, durante uma semana, quase sempre, escritores, editores, livrarias e público em clima festivo que chama atenção para o Livro, força o contato com o público e todos saem ganhando. A tal feira calhorda, por exemplo, aluga um espaço, cobra em reais por espaços a serem ocupados por livrarias e editoras, contrata espetáculos de teatro, músicos de fora, atrações infantis. Mas qual a razão do insulto "calhorda"? Porque é feita pelo Estado e por isso, tudo muda de figura. Se o Estado realiza uma Feira, ela não é uma reunião anual onde livrarias, editoras e escritores convidados ganham dinheiro. Ela é, primordialmente, um momento de balanço da política cultural da Secretaria de Cultura para com a área da Literatura. O momento de mostrar quais os novos escritores paraenses, do relançamento de obras importantes, do trabalho realizado na popularização dos escritores de agora, das novas bibliotecas montadas nos municípios, concursos de redação e literatura, enfim. Junto com isso, a presença de livrarias, livreiros, editores e why not, escritores famosos que viriam juntar-se aos locais, dividindo espaços com a mesma atenção. Isso não acontece. Não existe nenhuma política cultural voltada para a Literatura. Não existe nenhuma política cultural. O secretário de Cultura foi lá colocado para que pudesse passar quatro anos mostrando-se em todos os municípios e no momento certo, como ocorreu, sair e candidatar-se à Assembleia Legislativa. Os escritores locais, como sempre, terão, certamente, um pequeno espaço, mal colocado, quem sabe, junto aos banheiros, para ficar. Aos escritores de fora, todos os rapapés e aplausos. Nas prateleiras das livrarias, procure achar um exemplar de escritor local. Procurem pela coleção completa das obras do autor que neste ano é homenageado pela feira. Procurem. Não sei o que meus colegas acham. Penso por mim e escrevo neste blog. Também nem sou convidado e nem irei para qualquer evento, tendo em vista o caráter calhorda da feira. Claro, uma noite, se tiver vontade, posso passar por lá como é direito de qualquer cidadão. Mas é uma feira calhorda. Até quando?

2 comentários:

Francisco Rocha Junior disse...

Edyr,
Concordo inteiramente contigo: é uma feira calhorda. Já disse isso aqui e lá no Flanar.
Abraço.

Edyr Augusto Proença disse...

Pois é.
Abs