sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Olhar

É porque fiquei curioso quando li a notícia dando conta das primeiras sensações do rapaz, na Espanha, que teve um novo rosto implantado e deu entrevistas. É que também comentava sobre o momento em que se olhou pela primeira vez no espelho, com um novo rosto. O tempo que seu cérebro levou para reconhecer-se. Nós, homens, enfrentamos diariamente o espelho do banheiro para o barbear. Naquele instante, não estamos preocupados com rugas, expressões, cicatrizes, nada. Nosso cérebro avisa que o rosto está lá e iniciamos o barbear. Mas façamos diferente. Encaremos o espelho, procurando reconhecer aquele rosto. Mais adiante, olhos nos olhos, quem habita esse corpo, essa nave, essa embalagem? Qual é nossa embalagem? Ela vende que produto? O tempo em que o cérebro levou para reconhecer, ali, seu novo rosto. Achei isso incrível para uma conversa sobre, como nos vemos. É um assunto que vez por outra me interessa. Há longos anos, tinha uma página inteira em A Província do Pará, aos domingos. Um de meus temas foi "Como você se vê". Você assiste a um filme, por exemplo e está lá, na tela, em ângulos absolutamente diferentes. Você percebe o andar, a movimentação, o volume daquele corpo. É você, ocupando espaços, sorrindo, fazendo gestos. Você se aprova?
Aproveitando, um outro tipo de olhar que me tem feito pensar é aquele que passa por uma mídia. Com a profusão de aparelhos de fotografia e vídeo que temos, não há nada que passe despercebido no mundo de hoje. Alguém sempre estava passando e filmando. Mas pior, mesmo, é aquela pessoa que está diante de algum fato inusitado e ao invés de presencia-lo, prefere sacar o celular e filmar, certamente para depois enviar aos amigos, dizendo, "eu estava lá", ou seja, mais importante que presenciar com seus próprios e maravilhosos olhos, vê através de uma mídia, claro, com menos qualidade, mas tem em seu poder, como se não fosse suficiente guardar na memória. Já foram, por exemplo, a um desses chatos recitais anuais de academias de balé? Uma multidão de familiares se posta à frente do palco, filmando tudo. Os caras perdem um grande momento em suas vidas, assistir a filha ou filho dançar, para gravar.. Uma questão de olhar.

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