sexta-feira, 31 de maio de 2019

VAMOS AO TEATRO, MAS NÃO ME CHAME

Em um momento terrível para a Cultura, no Brasil, dois filmes nacionais recebem prêmios importantes no aclamado Festival de Cannes, na França. Mais interessante ainda, filmes dirigidos por cineastas do nordeste, um cearense, dois pernambucanos. Os jornais do sul e sudeste correram a noticiar e comentar. Penso que, quando apresentados por aqui, devam ter razoável bilheteria, baseado na curiosidade e na importante láurea do sucesso “lá fora”. Tive, há pouco tempo, a mesma experiência, após tantos anos escrevendo e com uma editora do porte da Boitempo. Foi após um prêmio recebido em Lyon, que os grandes jornais deram alarde ao “Pssica”, meu mais recente trabalho. Será que é suficiente? Claro que não. Do meu livro tive e tenho um consumo acima das expectativas, mas ainda muito distante do que poderia acontecer em um país tão grande quanto o nosso. O mesmo posso dizer dos filmes premiados. Nos últimos anos, houve um grande avanço na venda de ingressos para assistir filmes nacionais, do gênero comédia, filão percebido sobretudo por comediantes “globais”, que levaram às telas o mesmo tom de sucesso de alguns programas da tv. O setor vive problemas sérios a serem resolvidos pela Ancine. Tão sérios que para o lançamento dos “Vingadores”, blockbuster americano, uma comédia nacional, lotando todas as salas, foi retirada para dar lugar aos super heróis. É claro que defendo nosso cinema e sou contra o que aconteceu. A comédia é um gênero excelente. Mas essa preferência fará com que os filmes de Karim Ainouz, Kleber Mendonça e Juliano Dornelles, acabem em cine clubes, ou streaming. Aproveito e trago a situação para o Teatro. Deixo de lado a imensa quantidade de jovens, vítima da falta de Educação e Cultura, para quem o Cinema é apenas aquela profusão de explosões e super heróis, bem infantilizados, o Teatro é algo chato e Literatura, dá vontade de dormir. Deixo de lado. Quero aqui fazer um apelo a todas aquelas pessoas que saíam de casa para assistir os bons filmes, as boas peças de teatro, liam os lançamentos literários, frequentavam as galerias de arte. Voltem. Saiam de suas casas. Deixem as novelas, noticiários. Voltem a frequentar. Nós encontramos essas pessoas, gente amiga, inteligente, estudiosa e nos perguntam de nossas atividades. Estamos em cartaz com tal peça. Já viste tal filme? Meu livro vai ser lançado em tais dias, enfim. Não faltaremos, dizem. Mas não vão. Há muitas desculpas, todas esfarrapadas. Há alguns meses, conversava com uma amiga, minutos antes de iniciar um espetáculo na Casa Cuíra. Contou que leu alguma publicação minha, viu a propaganda da peça e decidiu sair de casa, vir ao teatro. Havia superado a preguiça. Chego em casa cansado do trabalho. Tomo banho, janto, cuido das crianças, do marido ou da esposa, a televisão está ligada e acabamos ali, feito zumbis. Todos nós temos usado bastante as mídias sociais. Nelas, gente bacana, que nos conhece, que admiramos, comenta desejando “merda” e anunciando que irá assistir. Mas não vai. Onde estão essas pessoas que tanto gostam de Cinema, Teatro, Literatura, Artes Plásticas? Outro dia, fui assistir Jô Soares em São Paulo. Não estava lotado. A plateia toda de cabeças brancas.  Os jovens perderam a conexão. Educação e Cultura. E os que sabemos que gostam, onde estão? Cansaço, preguiça, tédio, onde vamos parar desta maneira?

























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