sexta-feira, 24 de maio de 2019
CIDADÃO
Escrevo
como cidadão. Não sou especialista em Segurança Pública, nem tenho informações
privilegiadas. Talvez, quando estiverem lendo este texto, que por questões
industriais precisa ser entregue ao jornal com alguma antecedência, tudo já
tenha sido elucidado. É que desde a noite de domingo, circulando por lojas
24horas, lanchonetes, portarias, não há outro assunto a não ser a tragédia
ocorrida no Guamá. Em uma lanchonete, a proprietária explicava que havia pouca
gente por conta dos crimes. As pessoas ficam com medo, se trancam em casa,
disse. Sou escritor. Em meus livros, há sempre confronto entre pessoas e alguns
crimes, motivados por diversos fatores. Roubo, vingança, competição, traição,
enfim. Um amigo já disse que os ficcionistas estão em desvantagem. A realidade
é uma forte concorrente. Li alguns jornais, assisti a telejornais. Sei do
esforço do Governador em resolver o problema, com a Guarda Nacional. É claro
que ele sabe que há muito mais a ser feito, no campo da Educação, Cultura e
oferta de trabalho. O cidadão comum hoje não sabe de onde vem a ameaça. Se de
ladrões ou milicianos. Sou classe média, alvo principal de roubo, nas partes
centrais da cidade. Mas diariamente lemos assassinatos cruéis, nos subúrbios,
envolvendo tráfico de drogas ou disputa por território. O governo passado nada
fez. A coisa cresceu, desmedidamente. A chacina pode ter sido por uma
necessidade premente de ação contra inimigos, ou para desafiar as autoridades.
Oito das vítimas não tinham ficha criminal. O dj estava dormindo. Outra vendia
cosméticos. Vi fotos onde algumas mulheres portavam revolveres. Fake? Não sei.
Sem grandes opções de diversão, paraenses costumam passar o domingo junto a
amigos em algum bar próximo. Bebem, comem salgados e ficam arengando, rindo, se
divertindo até cada um voltar para casa, no limite de suas condições. As ruas
são estreitas, tortuosas e esburacadas, enlameadas. Todo mundo sabe da vida de
todo mundo. O Bar da Wanda estava, segundo informação, com 80 pessoas na casa,
divididas em dois andares. Casa cheia. Animada. Dj tocando brega. Calor total.
Muito barulho. Também, segundo a Polícia, era conhecido ponto de tráfico. Aí
vem a primeira pergunta: qual a razão de ainda estar aberto? Recebia
vigilância, queriam pegar algum peixe grande? Se os criminosos sabiam, a
Policia também sabia. Assisti reportagem da Tv, entrevistando alguém que
escapou. Nada de interessante. Porquê o repórter não foi atrás da vizinhança,
alguém que escapou e pode contar por onde? Alguém para dizer como era o dia a
dia daquele bar? Não filmou o interior e o segundo andar para podermos entender
como aconteceu? Se mataram onze, uns 69, grosso modo, fugiram pelos fundos. Se
dos 11 mortos, 8 não tinham ficha, havia apenas três bandidos? E os que
escaparam, procurarão vingança? E como chegar ao mandante? A sociedade cobra
respostas rápidas para não continuar vivendo apavorada. Talvez seja caro, mas
considero efetiva a instalação de câmeras de vigilância nessas ruas estreitas,
além de um centro de vigilância a receber, tempo real, as imagens.
Proporcionaria reação imediata e até mesmo seguir a rota de fuga. Mais uma vez,
o governo passado não atuou como deveria. Há muito a fazer. É impossível
fiscalizar apenas com guardas e viaturas. A viatura passa na ronda, um minuto
depois alguém é assaltado e a viatura está distante, completando seu percurso.
Enfim, tomara que tudo já tenha sido resolvido.
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