sexta-feira, 17 de maio de 2019
OS INFANTILIZADOS
Estava
no taxi, em SP e o motorista ouvia o programa Pânico, na Jovem Pan. O
entrevistado era um tal de Régis, que após ser produtor musical, tem agora um
canal no You Tube, seguido por milhares de pessoas. Desbocado, bem humorado,
gostando da polêmica, disse algo bem interessante sobre o estágio da música
brasileira. O atual ouvinte de música no Brasil é infantilizado. Dizia que após
ter criticado uma banda dessas coreanas que andam infestando os ares, recebeu
reclamação da chefe de um fã clube, com 37 anos. Claro que qualquer pessoa tem
o direito de gostar de qualquer música em qualquer idade e ninguém tem nada a
ver com isso, mas é um sintoma grave do estágio em que anda a Cultura nacional.
Sempre houve artistas apelando para um nível mais baixo de qualidade em seus
discos, claro. Mas era possível, para alguém que, com Educação e Cultura,
preferisse ouvir músicas mais melodiosas, com letras bem feitas, bem tocadas e cantadas
de maneira a elogiar e encontrasse artistas que tais. Hoje não. O nível de
nossos sucessos de hoje é lamentável. Letras tatibitate, dignas de “Atirei o
pau no gato”. Melodias pífias. Ou então esse funk claramente pornográfico, por
mal feito. E ainda temos sertanojos com aqueles vocais de quem tem graves
problemas estomacais. Difícil de aturar. Mas você olha ao lado e pega as
pessoas cantando, gostando. O nível de entendimento e exigência chegou a um
ponto insuportavelmente baixo. Hoje são raros os discos de novos artistas a me
interessar. Roberta Sá está bem no disco feito para ela por Gilberto Gil.
Bianca Gismonti, filha de Egberto, também fez um disco muito bom. Délia
Fischer. Pode haver mais um ou outro que tenha esquecido, mas é só. Muito
pouco. As gravadoras perderam até seu poder de julgamento daquilo que vale a
pena vender. Tudo vem da rua e por isso, reflexo do momento cultural em que
vivemos. E se distribui por todas as outras áreas. “De pernas para o ar 3”,
acho, comédia no estilo dos programas do gênero na Globo, era a grande
bilheteria, até os cinemas serem invadidos por esses Vingadores. Filmes mais
densos, com enredo, bons atores, não conseguem furar o bloqueio. Hoje, estão em
cinemas de arte e no streaming, no máximo. O público exigiu e agora todos os
filmes são dublados. As pessoas não conseguem acompanhar a leitura das
legendas. Analfabetos funcionais. Sobram as séries, mas o grande público ainda
não chegou nelas. Algumas são realmente boas. E ninguém mais vai ao Teatro, a
não ser que seja comédia e com atores globais. Nem assistem. Fazem selfies o
tempo todo. Se é teatro local ninguém vai porque é chato, pobre e os atores são
feios, exatamente o que aquele nefando armou, criou e impôs em vinte e tantos
anos de desgraça à frente da Secretaria de Cultura. E quem lê? Não me furto,
gosto muito de conversar com interessados, principalmente em colégios e
faculdades. Mas sempre começo me apresentando, afinal, ninguém ali comprou e
leu sequer um livro meu. Quem tenta ler, dorme ou não entende. Quem ouve música
de qualidade acha chata. Assistir filmes que fazem pensar, nem pensar. Sim, o
tal do Régis tem razão. O público está infantilizado. As mídias sociais deram
espaço aos idiotas que se recusam a refletir, raciocinar. Tudo tem que ser mais
raso do que piscina para crianças. Acho, como cidadão, que a Educação de base
precisa ser encarada de frente em um choque. Só assim formaremos uma nova
geração que tenha opinião, reflita, discorde, argumente. Até lá, o que será de
nós com esse público infantilizado?
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