sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

LIVROS DE PRESENTE

Luiz Schwarcz, um dos proprietários da Companhia das Letras, uma das maiores editoras do país enviou nesta semana, a várias pessoas, ganhando ampla repercussão na mídia, uma carta sugerindo que neste Natal, o livro fosse o presente escolhido. Isso acontece a partir da revelação de graves problemas financeiros enfrentados por duas das maiores livrarias do Brasil, a Cultura e a Saraiva. Ambas devem às grandes editoras, sobretudo, muito dinheiro. A loja da Saraiva em Belém não tem lançamentos, por exemplo. Sim, isso poderia indicar que agrava-se o problema de consumo de livros no país. Nem tanto. Outras grandes livrarias, como a Travessa, no Rio de Janeiro e a Leitura, de Minas Gerais, estão muito bem. A Travessa, inclusive, anuncia para o ano que vem a abertura de loja em São Paulo. Mas as editoras sentirão a falta de venda das duas grandes cadeias, que atuam em todo o Brasil, até mesmo pela Internet. Entre as desculpas está o preço do livro, que realmente aumentou. Ao menos 49,50 reais é o preço médio. Caro. Pouco mais de 10 dólares, digamos. Ainda assim, é mais barato que um casal sair de carro, ir ao shopping, pagar estacionamento, ingressos de cinema e jantar depois. E a discussão do preço fixo? Alguns sugerem isso. Complicado. E a lei da livre iniciativa? O preço que um livro chega ao livreiro em RJ e SP é diferente do que chega em Belém, com o frete. Como competir? E mesmo que encomendemos pela internet, pagaremos um frete altíssimo e ainda, possivelmente, enfrentaremos a chegada do livro à livraria local, antes de em nossa casa. Não, por enquanto leitores digitais não alcançam venda que represente obstáculo ao livro físico. Comprei dois deles, um Kindle e um Lev. Uso apenas quando viajo de avião. Sou do tempo antigo. Gosto de ter o objeto livro. A coisa tátil. O cheiro. O amigo livro. Nos Estados Unidos, a concorrência já chega a 50%. Enquanto isso, a Livraria Fox, continua na luta. Seus livreiros são ótimos. Os lançamentos alcançam o gosto de seu público. Mais importante, em um tempo de blogs, zaps, faces, instas, a Fox mantém-se como ponto de encontro, de reunião, de debate intelectual. Inaugurada há pouco tempo, a sala Clarice Lispector está com sua programação lotada de eventos, os mais diversos, sempre culturais. Sim, lemos pouco. Temos graves problemas de Educação e Cultura. Como meter na cabeça das pessoas que cada livro é um mundo, um universo que se abre para o conhecimento, emoção, vocabulário, exercício da imaginação. Minha mãe comprava enciclopédias. Havia uma coleção, chamada “Os Titãs”, sobre vários assuntos. E havia a biblioteca de meu avô, doada à Biblioteca Estadual e certamente jogada às traças, ao esquecimento. Lá encontrei todos livros, romances de capa e espada que me instigaram a saber de tudo. Minha tia avó Diva Proença me dava uma revista chamada Sesinho, publicada pelo Sesi. Em uma delas, “O Cachorrinho Samba na Bahia”, mencionava a Guerra de Canudos. Me meti a ler Euclides da Cunha. Logo no começo, abandonei as primeiras partes, “A Terra”, “O Homem”. Não havia como. Mas fui para a “Guerra”. Saí direto de Robin Hood para Canudos. Depois, o professor Edson Berbary, do Colégio Nazaré, me fez ler “Menino de Engenho”, de José Lins do Rego. Fui ao meu avô, saber se tinha para me emprestar. Seu exemplar estava autografado pelo autor. Uau. Esse livro me estimulou para sempre a ler. Eu não seria nada sem essa curiosidade pelo livro. Pelo próximo livro. Sim, comumente dou livros de presente, no Natal. Que tal, vocês, também?

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