sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

EU, VOCÊ, NÓS DOIS, JÁ TEMOS UM PASSADO, MEU AMOR

Saiu a foto e a notícia da casa na Barão da Torre, Ipanema, RJ, onde Tom Jobim morou. Um de seus endereços. Foi vendida e um prédio será erguido no local. Alguns estão gritando. Já vi alguém dizendo que é melhor assim. Que no prédio morem outros artistas fazendo novas músicas. Bem, o que ainda não falta é espaço para construir novos prédios onde novos músicos irão morar e, quem sabe, compor maravilhas. Para mim foi interessante e me moveu para escrever estas linhas porque estive hoje na Rua Santo Antônio, já completamente destruída, tomada por barracas podres, vendendo produtos falsos, para um público que vem de longe para comprar. Há muito que pessoas, instituições, associações, o caralho a quatro bradam, pedem socorro, para que o que chamamos de “Comércio”, onde muito da cidade iniciou, seja acudido. O casario, lindo, desaparece, desmorona, é demolido, é dilacerado, vilipendiado, violentado, depredado, na sanha da ignorância, da estupidez, do cretinismo, tudo isso gerado pela falta de Educação e Cultura que nos assola, e políticos imbecis, bandidos, idiotas, néscios, ladrões, que têm comandado nossa urbe. Nosso tecido civilizatório está completamente esgarçado. É como se, lentamente, talvez rapidamente, sei lá, estejamos voltando à vida na selva, onde não há leis e onde tudo pode ser feito, por quem quiser fazer, onde e quando quiser, meramente por ter vontade de fazer. Impera a lei do mais forte, com armas, assaltos, reféns, tiros, mortes, a qualquer hora do dia, em qualquer lugar, à vista de todos, afrontando a mínima idéia de civilização.
Se embaixo o cenário e de ruínas, digamos, ao olhar para cima os olhos se enchem de lágrimas pelo choque em ver o que eram as casas, velas, azulejadas, janelões, enfeites, estátuas, acima dessa desgraça abaixo. As lojas, ao invés de preservar a beleza, a derrubam com gosto, instalando peças ridículas, que ofendem qualquer conceito de estética. No meio das ruas, essas barracas como nesses campos de refugiados de guerra, onde os produtos made in China são vendidos. E muita sujeira, caixas de som altíssimas, locutores falando português errado e sendo entendidos por todos os que também não sabem mais falar seu idioma.
Belém já está abaixo da civilização. Quanto custará para voltar aos mínimos padrões? Essas novas gerações de imbecilizados e mal educados, que não sabem somar dois mais dois, lendo mas sem saber dizer o que leram, acham que o mundo começou no dia em que nasceram. Não têm idéia de onde pisam, por onde passam e quem fez tudo isso existir. E quem tem idéia disso tudo, por boçalidade, tenta por todos os meios destruir o que foi feito, meramente porque não foi sua obra, ou por discordâncias políticas.
A Presidente Vargas está destruída, com prédios inteiros abandonados, mendigos e marreteiros, ladrões e crackeiros, circulando com olhos esgazeados de crack. Caixa Economica, Banco do Brasil, Bradesco, Banpará, C&A, o caralho (desculpem, mas não há como evitar), nenhum deles pensa em cuidar da avenida. Em usar os prédios para fins culturais ou educacionais. Em devolver à cidade o dinheiro que ganham a rodo. É escrotice. Muita. Desamor. Odeiam o Pará. Odeiam-nos. Vivem do nosso dinheiro e nos odeiam.

E nós? Você que teve a paciência de ler até aqui, deve concordar, xingar, também, depois, dizer que porra, alguém devia fazer alguma coisa. E pronto. Vida que segue. Não é, aparentemente, nenhuma agressão à sua pessoa, nada que aparentemente o afete. Mas afeta. Machuca. Agride. Diminui. A sua, a minha cidade está destruída, abandonada, achincalhada, humilhada. O que podemos fazer. Eu, por enquanto, ao menos, escrevo este. Vamos fazer mais?

Nenhum comentário: