sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
POR UMA CUIA DE TACACÁ
Feliz
Natal para todos. Espero que estejam bem felizes para comemorar a data. A mim
pouco importa se é o dia certo ou não. Tenho meus assuntos com Cristo
razoavelmente bem conduzidos. Gosto do Natal. Me emociona. Lembro da infância.
Tive uma mãe com uma imaginação fértil. Quando a época chegava, inventava mil
estratagemas para ficarmos ligados. Como já contei, descobri sobre Papai Noel e
levei meu irmão menor para confirmar. Paciência. Não me venham com esse negócio
de festa do consumo e tal. Adoro presentear. Escolho presentes que acho que o
presenteado vai gostar. É bom fazer as outras pessoas felizes. Lamento que nem
todos possam ter a festa que desejavam. Sim, a festa do nascimento do Cristo
devia ser a celebração do amor, da amizade entre as pessoas. O renascimento.
Jesus viveu entre os pobres. Mas importante mesmo é o que vai no coração. Não
me venham também com essa de não ter saco de passar a noite com o cunhado
detestável, a prima que bebe e enferniza, enfim. Sugiro uma trégua. Dá um
tempo, cara. Não perde o melhor. Uma noite apenas, poxa. Sinto saudade da minha
família. De meus irmãos crianças. Do acordar, correr e abrir os presentes.
Minha mãe se foi no começo do ano e estou assim, meio sem rumo. Carlos Eduardo
Novaes conta de um dia 25, almoço, o menino veio chorando queixar-se à mãe.
Porque você não está em seu quarto, jogando seu novo game? Não posso. Papai e
os tios estão lá, jogando e me mandaram sair. Todos viramos crianças, claro. Encontrei
amigos de uma vida inteira, desde o tempo do colégio. Cabelos brancos, barrigas
proeminentes, a verdade é que nos vemos ainda baixinhos, magrelos, caneludos e
com olhos espertos, danados. E nos deliciamos em lembrar nossas antigas
aventuras. Lembraram uma delas, que tentarei contar, aqui. O Nando veio com a
notícia que agora tinha um galo de briga, desses de rinha. E haja a contar
vantagem. Procuramos todos nos informar sobre o assunto. A alimentação correta,
os treinamentos. O Nando ia dizendo que obedecia e que o galo, a cada dia que
passava, ficava mais forte e capaz de lutar e ser um grande campeão. Na hora do
recreio, juntos, como que guardando um grande segredo, conversávamos sobre seu
desempenho. Outro veio com a notícia de uma rinha próximo à sua casa. Foi lá e
contou do “nosso” galo de briga, que apelidamos logo de Ali. Sim, Ali, de
Mohammed Ali, claro. Disse maravilhas e logo apareceu alguem que fez o desafio.
Iam apostar. Quanto? Ficou no ar. Fomos todos ao Nando. O Ali já está pronto?
Claro! Só mais uns ajustes. E as esporas dele? Estou dando um tratamento
diário, para ficarem bem afiadas. Sabiam que o nome delas é Batoque? Não.
Enfim, chegou o dia. Marchamos em cortejo até o rinheiro para o grande embate.
Era um ambiente de adultos, mas fizemos pose de acostumados àquilo. Quando o
desafiante olhou para o Ali, até sorriu. Pensamos que era de medo. Vamos
apostar! Bom, todos botamos as mãos nos bolsos e conseguimos 15 reais! Foi uma
gritaria. Acho que riram, mas era nossa aposta. Estávamos nervosos. Bem, a luta
não durou dez segundos. O galo rival foi direto na papilha do Ali e acabou a
luta. O Ali era mutuca. Ficamos arrasados. Perdemos dinheiro. Nando recolheu o
galo. Percebemos que o ali nunca havia enfrentado um galo na vida. O Nando
esqueceu de aulas práticas, digamos. O que fazemos com ele? Acabamos em uma
tacacazeira que ficava na esquina. Ela trocou o galo morto por uma cuia de
tacacá, que dividimos, pensativos. Feliz Natal.
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