sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

DONA FERNANDA FALOU


Fernanda Montenegro usou programa dominical na Tv para defender os artistas, que principalmente durante a campanha política, foram acusados de enriquecer através da Lei Rouanet. Tinha de ser alguém inatacável como ela, para dizer. Fernanda, mais que tudo, defendeu os artistas espalhados pelo Brasil, a grande maioria exercendo sua arte sob as piores condições possíveis, para um público que cada vez mais se afasta da Cultura, seduzido por atrações aparentemente mais interessantes, mas que somente refletem o mais baixo e profundo nível de Educação e Cultura que aflige todo o país. Há várias gerações absolutamente perdidas, sem ter opinião, sem articular pensamentos, lendo mas não captando o que foi lido e lendo com muita dificuldade. Sem qualificação, não têm espaço no mercado de trabalho, digamos, onde os salários são minimamente condizentes e se não vão para a informalidade, construção civil, ingressam no tráfico e outros delitos. Mas os artistas foram mal falados por causa da Lei Rouanet. A maioria das pessoas nem sabe, que a Lei não dá dinheiro a ninguém. Os interessados submetem seus projetos a um comitê em Brasília, que julga os que considera melhores, concedendo-lhes um selo que lhes possibilita ir a empresas solicitar patrocínio, na forma de imposto que essas empresas iriam pagar ao governo. Grosso modo. Assim funcionam demais leis brasileiras, para a área, como a que temos no Pará e em Belém. Viajei por aí e conheci a National Endowment of Arts, nos EUA, onde grupos escolhidos, em várias áreas, recebem dinheiro para um ano inteiro, recebendo também contadores que fiscalizarão seu bom uso. Nem todos gostam, por lá. E quem fica fora da lista? E novos artistas que ainda precisam tornar-se conhecidos? Na Alemanha sei de uma crise no teatro, porque as companhias são subsidiadas e deixou de haver, digamos um desafio, para obter maior público, para desafiar os costumes, influenciar a sociedade. Temos aqui uma lei que nosso venerável prefeito recusa-se a obedecer, como é hábito em governos tucanos, que odeiam Cultura, a não ser ópera. O venerável, para não ficar atrás em ridículo, também é imortal da Academia Paraense de Letras, vejam só. A grande questão é como destinar recursos para a Cultura. Alguém dirá que isso é absurdo e que o artista é um profissional como qualquer um. Ganha dinheiro para fazer teatro? Não vou gastar espaço sobre o valor da Cultura. O artista não quer me dá um dinheiro aí. Ele quer e é obrigação do Estado, em qualquer instância, fomentar a criação de um mercado onde ele possa existir. Nas leis, da maneira que estão aí, o Governo na base do toma que o filho é teu, faz com que departamentos de marketing decidam quem, dos que receberam o selo da lei, vai receber patrocínio. O marketing escolherá aquele monólogo maravilhoso e importante ou aquela comédia fácil, que receberá mais público? Ele precisa pensar pelo produto. Esse é o problema. Dinheiro da Rouanet não vem para cá. Quais são nossos grandes patrocinadores? O Cuíra conseguiu patrocínio via Rouanet da Petrobrás. Raro. Mas acabou. Um espetáculo. Feito, contas prestadas e tal. Então, vão as grandes empresas destinar milhões para musicais da Broadway, para turnês de músicos como Ivete Sangalo, peças de famosos como Jô Soares, por exemplo, claro e a pergunta que faço é, mesmo sabendo que tudo isso custa caro, somente a fama desses artistas (muito justa, por sinal), não os faria arriscar seu próprio dinheiro, deixando o das leis para os 95%, talvez, dos artistas espalhados no Brasil? Aqui, nem a estadual funciona. As empresas não querem abrir seus livros para a Sefin. E pronto. A parceria entre o Teatro de Apartamento e a Casa Cuíra tem rendido belos espetáculos. Patrocínio? De ninguém. E ainda somos chamados de milionários da Rouanet...

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