Fernanda
Montenegro usou programa dominical na Tv para defender os artistas, que
principalmente durante a campanha política, foram acusados de enriquecer
através da Lei Rouanet. Tinha de ser alguém inatacável como ela, para dizer.
Fernanda, mais que tudo, defendeu os artistas espalhados pelo Brasil, a grande
maioria exercendo sua arte sob as piores condições possíveis, para um público
que cada vez mais se afasta da Cultura, seduzido por atrações aparentemente
mais interessantes, mas que somente refletem o mais baixo e profundo nível de
Educação e Cultura que aflige todo o país. Há várias gerações absolutamente
perdidas, sem ter opinião, sem articular pensamentos, lendo mas não captando o
que foi lido e lendo com muita dificuldade. Sem qualificação, não têm espaço no
mercado de trabalho, digamos, onde os salários são minimamente condizentes e se
não vão para a informalidade, construção civil, ingressam no tráfico e outros
delitos. Mas os artistas foram mal falados por causa da Lei Rouanet. A maioria
das pessoas nem sabe, que a Lei não dá dinheiro a ninguém. Os interessados
submetem seus projetos a um comitê em Brasília, que julga os que considera
melhores, concedendo-lhes um selo que lhes possibilita ir a empresas solicitar
patrocínio, na forma de imposto que essas empresas iriam pagar ao governo.
Grosso modo. Assim funcionam demais leis brasileiras, para a área, como a que
temos no Pará e em Belém. Viajei por aí e conheci a National Endowment of Arts,
nos EUA, onde grupos escolhidos, em várias áreas, recebem dinheiro para um ano
inteiro, recebendo também contadores que fiscalizarão seu bom uso. Nem todos
gostam, por lá. E quem fica fora da lista? E novos artistas que ainda precisam
tornar-se conhecidos? Na Alemanha sei de uma crise no teatro, porque as
companhias são subsidiadas e deixou de haver, digamos um desafio, para obter
maior público, para desafiar os costumes, influenciar a sociedade. Temos aqui
uma lei que nosso venerável prefeito recusa-se a obedecer, como é hábito em
governos tucanos, que odeiam Cultura, a não ser ópera. O venerável, para não
ficar atrás em ridículo, também é imortal da Academia Paraense de Letras, vejam
só. A grande questão é como destinar recursos para a Cultura. Alguém dirá que
isso é absurdo e que o artista é um profissional como qualquer um. Ganha
dinheiro para fazer teatro? Não vou gastar espaço sobre o valor da Cultura. O
artista não quer me dá um dinheiro aí. Ele quer e é obrigação do Estado, em
qualquer instância, fomentar a criação de um mercado onde ele possa existir.
Nas leis, da maneira que estão aí, o Governo na base do toma que o filho é teu,
faz com que departamentos de marketing decidam quem, dos que receberam o selo
da lei, vai receber patrocínio. O marketing escolherá aquele monólogo
maravilhoso e importante ou aquela comédia fácil, que receberá mais público?
Ele precisa pensar pelo produto. Esse é o problema. Dinheiro da Rouanet não vem
para cá. Quais são nossos grandes patrocinadores? O Cuíra conseguiu patrocínio
via Rouanet da Petrobrás. Raro. Mas acabou. Um espetáculo. Feito, contas
prestadas e tal. Então, vão as grandes empresas destinar milhões para musicais
da Broadway, para turnês de músicos como Ivete Sangalo, peças de famosos como
Jô Soares, por exemplo, claro e a pergunta que faço é, mesmo sabendo que tudo
isso custa caro, somente a fama desses artistas (muito justa, por sinal), não
os faria arriscar seu próprio dinheiro, deixando o das leis para os 95%,
talvez, dos artistas espalhados no Brasil? Aqui, nem a estadual funciona. As
empresas não querem abrir seus livros para a Sefin. E pronto. A parceria entre
o Teatro de Apartamento e a Casa Cuíra tem rendido belos espetáculos.
Patrocínio? De ninguém. E ainda somos chamados de milionários da Rouanet...
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