sexta-feira, 30 de novembro de 2018
ESCREVI UM LIVRO
Quero,
com este, dividir com vocês a alegria de terminar de escrever mais um livro.
Será o décimo sétimo. Pela editora Boitempo, certamente. Ainda não sei quando
será lançado, porque isso depende da programação da editora. Leonardo Padura me
disse uma vez que se enamorava pelo livro que escrevia, ao passar muitas horas
com ele ou pensando nele. E que sentia uma angústia, uma sensação de perda,
término de namoro, quando finalmente precisava entrega-lo à Editora. Você anda
pela casa sem encontrar o que fazer. Vai aos jornais saber quais os filmes ou
peças de teatro em cartaz. Até ali, seu mundo estava fechado nos personagens,
na história contada no livro. Não há método específico para escrever. Lembrem
da frase “escrever é muito fácil, por isso é tão difícil”. Cada escritor tem
uma motivação. Posso dizer que nenhum dos livros que escrevi teve a repetição
de algum passo, seja de horário, tempo de escrita, qualquer coisa assim. Tenho,
ainda, a imensa sorte de escrever por prazer, sem que ninguém me cobre, sequer
coerência. Há escritores felizes em escrever uma página por dia. Outros, em um
final de semana, já começam e terminam. Não tenho método. Sou caótico. As
histórias e personagens vão contando suas aventuras aos poucos e vou guardando
na cabeça. Eles vêm sempre acompanhados de família, amigos, amantes e inimigos.
Há que encontrar espaço, extrair aquilo que esses “aderentes” possam oferecer,
sem também alugar espaço. Não perca o foco. Sim, muitas vezes eles são
danadinhos e aprontam pra valer. Incluo ou não? É preciso decidir. Como diz
Antonio Cícero: “o certo é uma estrada reta. De vez em quando acerto, depois
tropeço no meio da linha”. Adoro deixar os personagens dar opinião, se meter,
mostrar que têm suas vontades. Por isso, nunca sei como o livro vai terminar.
Dan Brown, o escritor de best sellers, disse em entrevista ao Bial que somente
inicia a escrita de um livro após saber exatamente todos os passos, até o
final. Acho isso monótono. Quando estou escrevendo, sinto-me mais feliz. Desta
vez, saí apenas umas duas vezes de restaurantes sem pagar a conta. A cabeça
estava em outro lugar e sair a andar talvez tenha sido um conselho para fazer
as idéias fluírem ainda mais. E tocam em seu ombro dizendo que não paguei a
conta. Desculpe, mas é que... Como sempre, tudo se passa em Belém. Agora, no
centro da cidade. Bem urbano. Incluí trechos do livro em algumas crônicas,
aproveitando para colocar-me em cena. Houve quem pensasse que tudo era
verdadeiro e perigoso. Estou pensando nesses escritos transformarem-se em
prólogo. Não sei. Escrevo, geralmente, um capítulo por dia, seja que tamanho
tiver. E penso em suas consequências. Como isso afetará a história. Isso dura
até o dia seguinte. Fiz uma viagem rápida de uma semana e tive dificuldade em
retornar ao livro. O que será que eu estou aprontando? Releio tudo e considero
bom o resultado. Para mim, como diria Paravicini, em “A Ratoeira”, de Agatha
Christie, em cartaz neste sábado e domingo, oito da noite, na Casa Cuíra. Estou
satisfeito. Espero que os leitores pensem da mesma forma. Já enviei para a
Boitempo. Agora a sensação de vazio. Mas também não deixei de assistir filmes,
ler meus livros, jogar futebol. Precisaria ter mais responsabilidade, após o
“Pssica” ser tão bem recebido? Caprichar mais? Sempre tento melhorar, mas
escrever é um grande prazer. Grande alegria. No entanto, também sinto como se
tivesse tirado uma Kombi dos ombros. Os personagens criam vida. Peso. Você vai
direcionando para um final e eles se revoltando, preferindo outros finais e é
preciso administrar. Ainda não tenho um título, mas pode ser BelHell.
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