André Calixte Haidar Midani é
sírio, estava na Normandia, criança, durante a invasão dos Aliados na Segunda
Guerra Mundial, correu mundo e chegou ao Brasil para trabalhar na gravadora de
discos Odeon. Era o estertor dos cantores de dó no peito e capas horrorosas.
André lançou João Gilberto. É pouco? Nos anos seguintes, foi para a Polygram
onde arregimentou um cast que contava com Caetano, Gil, Chico, Gal, Bethania,
Raul Seixas, Alcione e muitos outros. Não era o diretor artístico, mas cuidava
da promoção e do dinheiro. Lembram do Phono 73? Era uma época dourada, onde se
visava mais o artista que o hit. O primeiro disco era uma apresentação, o
segundo uma afirmação e no terceiro, vinha o sucesso. André frequentava rodas
de samba, encontros nas casas. Trocava idéias, fazia um meio de campo perfeito
porque era criativo, inteligente, esperto, totalmente diferente dos
engravatados que ainda sobreviviam. Havia o boato que Chico e Caetano eram
brigados. Fez os dois gravarem disco ao vivo e lembro que foi hit do verão.
Topou o desafio de Caetano e lançou “Araçá Azul”, recorde em devolução por
parte dos lojistas. Era um disco experimental, não comercial. E então passou
para a WEA, em parceria com americanos donos da Warner, Elektra e Atlantic. Eu
começava a trabalhar em rádio. Uma época em que divulgadores chegavam com
caixas contendo 25 elepês, a maioria internacionais. Vinham Crosby, Stills,
Nash & Young, Fleetwood Mac, Bad Company, Creedence Clearwater Revival. A
EMI e Polygram iam mais nos ingleses. Uma festa. Difícil arranjar tempo para
ouvir tudo que chegava. Mas o mundo pop brasileiro estava mudando e já aparece
André Midani lançando Baby e Pepeu, Guilherme Arantes, Frenéticas, a Cor do Som
e principalmente o Gilberto Gil de “Palco”. Midani também teve a idéia de
juntar Caetano, Gil e João Gilberto no disco “Brasil”, que quase não saía,
tamanhos os gastos e as maluquices de João. O país mudava, ouvia mais música
internacional e os artistas locais eram reverenciados por uma juventude que
agora comprava os discos e os ouvia por um bom tempo, conferindo três a cinco
sucessos por trabalho. Uma época em que a capa dos discos eram algo artístico,
lindas, onde demorávamos o olhar, desvendando seus segredos e informações. E lá
vem André Midani, contratando Nelson Mota e Pena Schmidt, que correram mundo
atrás dos novos artistas brasileiros. Titãs, Ira, Lulu Santos, Ultraje a Rigor,
Kid Abelha, constituindo outro boom nos anos 80. Junto, veio o cd que acabou
com a qualidade das capas. Veio a pirataria, que primeiro acabou com as vendas
de cassete e mais tarde, do disco. E vieram os business men, pouco interessados
na qualidade e novidade na obra dos artistas. Veio a busca incessante do hit. E
veio a internet, o download e o mundo, de repente, virou de cabeça para baixo.
A essa altura, Midani já estava em New York, top of the list, mas sofrendo com
as mudanças. O livro “Do Vinil ao Download”, é um relançamento, pois foi
originalmente lançado em 2008. Agora, teve uma atualização e principalmente,
foi transformado em série que foi mostrada no canal fechado GNT. Passei a vida
inteira no rádio, ouvindo música, percebendo as transformações. Agora imaginem
estar no centro, no olho do furacão, enfrentando de peito aberto e mente
esperta tudo o que aconteceu. Midani lamenta as mudanças, porque a arte perdeu
e o negócio música venceu a música que era negócio. Já pensou conviver com
todos esses artistas e idéias? Eu queria ser André Midani.
Nenhum comentário:
Postar um comentário