É como um raio. Não há como se
defender. Lembro do “Poderoso Chefão”, em que Anthony Corleone troca olhares
com Apolônia. Ou como os protagonistas da novela das oito, não sei o nome dele,
ela é Bruna Marquezine. Vão passando despercebidos um do outro e de repente,
zás, os olhares cruzam. Minha melhor lembrança disso é o “Romeu e Julieta”, do
italiano Franco Zeffirelli. Há uma festa na casa dos Capulettos, e a galera dos
Montecchios, resolve participar com máscaras. Vem um cantor e começa a entoar
“What is a youth, impetuous fire”. Formam uma roda para ouvir. Romeu e Julieta
vêem-se. A roda move-se e eles também, por entre cabeças. Meu Deus, quantas
vezes podemos nos sentir assim? E quando isso é no primeiro amor? Quantas vezes
há uma troca de olhares, mas por todos os motivos, nada acontece? Não sei como
é hoje, mas eu era moleque e não tinha coragem. Ficávamos com aquele “olhar de
rapina”, como diz o Tavito na “Rua Ramalhete”, inventando todos os motivos,
enchendo a cara, decorando palavras, enquanto outros, desavergonhados, dançavam
a noite inteira. E de repente, num assombro de coragem vamos até aquela mesa e
ela não parece dar-se conta de nossa aproximação. Boa noite? Vamos dançar? O
que você disse? Titubeio, gaguejo e reafirmo “Vamos dançar”. Fico surpreso com
minha bravura. Ela levanta, maravilhosamente linda, vou recuando até a pista de
dança, onde toca “The More I See You”, com Chris Montez e de repente, envolvo
seu corpo nos braços, e de maneira muito terna e respeitosa, sinto seu perfume.
Mais que tudo, por mais que haja inevitavelmente muito desejo, o amor fala mais
alto e tudo o que eu penso é na sensação daquele corpo dentro do meu escudo de
proteção, os passos leves, sua respiração e desesperadamente procuro assuntos,
palavras a dizer, para mantê-la comigo e não me coloque no automático, meu
Deus, o que eu digo? Hoje está boa a seleção musical, não? Gostas dessa música?
Eu te vejo sempre na hora da saída do colégio. E aqui também, né? Pareço mais
confiante e no entanto, ao final da segunda música ela se distancia e me diz as
palavras terríveis, “vamos parar, estou cansada”. Está bem, nos separamos e
ainda a acompanho até próximo de sua mesa. Caminho de volta, a cabeça em
redemoinho, talvez chegue ao bar, peça uma dose e enfim, respire fundo e a olhe
de volta. Ela parece me olhar. Poxa, disse que estava cansada. Deve ser assim. Mas,
será que sou um rato? Antes que me dê conta, levado pela bravura, me dirijo até
lá e a chamo para dançar, again. A música é bem lenta. Sinto seu corpo colando
no meu e sua cabeça apoiar no meu ombro. Será que enfartarei? Meu coração toca
solos em tambores africanos. Encosto a cabeça na sua, beijo sua orelha e ali
ficamos por várias músicas. Até começar uma mais balançada. Vamos conversar um
pouquinho? De repente sua mãe está de pé, ao lado da mesa, a conta paga. Ela já
vai. Aniquilado, sugiro encontra-la na saída do colégio. Me dá um tá sem muita
certeza. E agora tenho assunto para sonhar o resto do final de semana, com a
certeza de vê-la de dia, sol a pino, sem estroboscópica, Chris Montez e a minha
decantada coragem. Não, eu nunca fiz isso. Até dois dias atrás era um garoto,
uma criança. Sonhos? Só se for com olhos bem abertos. Não vou dormir, com
certeza. Em casa me perguntarão o que houve, pois estou calado, rodando pelos
cantos. O mundo se abre como uma rosa para mim em mil possibilidades, mas
primeiro tenho de ir a esse encontro. Quer namorar comigo?
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