sexta-feira, 5 de junho de 2015

INIMIGO

Me sinto como um inimigo de realizações que só teriam o objetivo de fazer o melhor para a Cultura no Pará. Tantos escritores, exercendo o sagrado direito de ir e vir como melhor lhes aprouver, desfrutando, felizes, daquilo que considero uma farsa, um escárnio para com a Literatura Paraense. Leio reportagens, vejo fotos, vídeos de mesas de debate, noites de autógrafo e me sinto solitário com minha opinião. Eles estão sorridentes, felizes, empolgados com a tal Feira de Livros, realizada anualmente no Hangar. Bem, prefiro ficar sozinho com minha opinião, mas aproveito para comenta-la, mais uma vez, aqui neste espaço, que é meu. Espero que, ao lerem, tirem de foco opiniões primárias como “vai ver que ele é do PT”. Ou “é um invejoso do sucesso dos outros”. Também, “ele é do contra”. Não.
Se um empresário qualquer aluga o Hangar por uma semana e depois, subloca espaços para livrarias e editoras, convida alguns escritores famosos para serem entrevistados e assinar seus best sellers, não posso ter nada contra. Sucesso ou fracasso, e daí? Mas quando uma Secretaria de Estado da Cultura promove uma Feira que se diz Pan Amazônica, sem sequer ir à esquina. Quando resolve antecipar para o primeiro semestre, o que deveria ser um ápice, ao final do ano, é preciso reclamar. Me explico melhor. Esse governo, há mais de vinte anos no poder, com meros quatro anos para outro partido político, que conseguiu ser ainda pior, vive de eventos. Ignorância, incompetência, desinformação, sei lá. O Pará não tem nenhuma Política Cultural. Na área de Literatura, nada. Há alguns pequenos eventos, ligados ao nada. Uma Feira de Livros deveria ser o ápice de todo um programa, realizado no Estado, durante o ano. Que tornasse os escritores da atualidade conhecidos, estudados, publicados. Que lançasse novos escritores paraenses e lhes desse espaço para se tornar conhecidos. Que relançasse livros importantes, fora de catálogo, porque sem memória, não existimos. Que realizasse em municípios pólo, todo um trabalho de popularização dos escritores paraenses, fazendo-os circular. Então, ao final do ano, uma Feira seria a soma de todas essas ações. Seria, ao menos, paraense, com a presença de escritores e munícipes de todo o Estado. Quem sabe, adiante, adotaria o tal do Pan. Mas não é assim. Escolhem um patrono mas não lhe estudam a obra. Não o homenageiam editando trabalhos ao longo do ano. Não o debatem. Apropriam-se de seu nome para dar um recheio ao bolo que é oco. E o tal país convidado? Onde estão escritores do tal país? Ou escritores brasileiros que usem a cultura desses países em seus livros? É ridículo. E então chegam as grandes estrelas, os escritores famosos, vistos por salas cheias. São levados a passear, restaurantes típicos. Saem daqui felizes, escrevem colunas. Enquanto isso, os escritores locais ficam em um pequeno stand e pronto. Porra, a Feira devia ser deles!!
Mas leio, vejo, assisto escritores paraenses, felizes, lisonjeados, participando de mesas, debates, noites de autógrafo. Fico com a minha opinião. Junto com outros escritores que pensam da mesma maneira, realizamos a primeira FLiPa, Feira Literária do Pará, que acontecerá pela segunda vez na Livraria Fox, com apoio da Editora Empíreo. Iniciativa absolutamente particular. Temos um patrono, o qual reverenciamos em palestras e exposição de obras. Relançamos livro de autor local, escolhido, e que seja importante. Lançamos anualmente um autor novo, em seu primeiro trabalho. Vendemos nossos livros com descontos. Não é assim que deve ser? É nossa posição. Nossa bandeira. Nisso acreditamos.

Não tenho nem posso ter nada contra os colegas que fizeram sua escolha, mas gostaria de pensar que os que lerem este artigo, vão refletir sobre o ato que cometeram ao prestigiar uma farsa.

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