Me sinto como um inimigo de
realizações que só teriam o objetivo de fazer o melhor para a Cultura no Pará.
Tantos escritores, exercendo o sagrado direito de ir e vir como melhor lhes
aprouver, desfrutando, felizes, daquilo que considero uma farsa, um escárnio
para com a Literatura Paraense. Leio reportagens, vejo fotos, vídeos de mesas
de debate, noites de autógrafo e me sinto solitário com minha opinião. Eles
estão sorridentes, felizes, empolgados com a tal Feira de Livros, realizada
anualmente no Hangar. Bem, prefiro ficar sozinho com minha opinião, mas
aproveito para comenta-la, mais uma vez, aqui neste espaço, que é meu. Espero
que, ao lerem, tirem de foco opiniões primárias como “vai ver que ele é do PT”.
Ou “é um invejoso do sucesso dos outros”. Também, “ele é do contra”. Não.
Se um empresário qualquer aluga
o Hangar por uma semana e depois, subloca espaços para livrarias e editoras,
convida alguns escritores famosos para serem entrevistados e assinar seus best
sellers, não posso ter nada contra. Sucesso ou fracasso, e daí? Mas quando uma
Secretaria de Estado da Cultura promove uma Feira que se diz Pan Amazônica, sem
sequer ir à esquina. Quando resolve antecipar para o primeiro semestre, o que
deveria ser um ápice, ao final do ano, é preciso reclamar. Me explico melhor.
Esse governo, há mais de vinte anos no poder, com meros quatro anos para outro
partido político, que conseguiu ser ainda pior, vive de eventos. Ignorância,
incompetência, desinformação, sei lá. O Pará não tem nenhuma Política Cultural.
Na área de Literatura, nada. Há alguns pequenos eventos, ligados ao nada. Uma
Feira de Livros deveria ser o ápice de todo um programa, realizado no Estado,
durante o ano. Que tornasse os escritores da atualidade conhecidos, estudados,
publicados. Que lançasse novos escritores paraenses e lhes desse espaço para se
tornar conhecidos. Que relançasse livros importantes, fora de catálogo, porque
sem memória, não existimos. Que realizasse em municípios pólo, todo um trabalho
de popularização dos escritores paraenses, fazendo-os circular. Então, ao final
do ano, uma Feira seria a soma de todas essas ações. Seria, ao menos, paraense,
com a presença de escritores e munícipes de todo o Estado. Quem sabe, adiante,
adotaria o tal do Pan. Mas não é assim. Escolhem um patrono mas não lhe estudam
a obra. Não o homenageiam editando trabalhos ao longo do ano. Não o debatem.
Apropriam-se de seu nome para dar um recheio ao bolo que é oco. E o tal país
convidado? Onde estão escritores do tal país? Ou escritores brasileiros que usem
a cultura desses países em seus livros? É ridículo. E então chegam as grandes
estrelas, os escritores famosos, vistos por salas cheias. São levados a
passear, restaurantes típicos. Saem daqui felizes, escrevem colunas. Enquanto
isso, os escritores locais ficam em um pequeno stand e pronto. Porra, a Feira
devia ser deles!!
Mas leio, vejo, assisto
escritores paraenses, felizes, lisonjeados, participando de mesas, debates,
noites de autógrafo. Fico com a minha opinião. Junto com outros escritores que
pensam da mesma maneira, realizamos a primeira FLiPa, Feira Literária do Pará,
que acontecerá pela segunda vez na Livraria Fox, com apoio da Editora Empíreo.
Iniciativa absolutamente particular. Temos um patrono, o qual reverenciamos em
palestras e exposição de obras. Relançamos livro de autor local, escolhido, e
que seja importante. Lançamos anualmente um autor novo, em seu primeiro
trabalho. Vendemos nossos livros com descontos. Não é assim que deve ser? É
nossa posição. Nossa bandeira. Nisso acreditamos.
Não tenho nem posso ter nada
contra os colegas que fizeram sua escolha, mas gostaria de pensar que os que
lerem este artigo, vão refletir sobre o ato que cometeram ao prestigiar uma
farsa.
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