Essas
vésperas de julho eram passadas com grande ansiedade. E no grande dia,
acordávamos cedo. Embarcávamos no Presidente Vargas, maravilhoso como um cisne
e éramos todos só expectativa. Na chegada, o trapiche lotado, dando boas
vindas. “Sete” era o carregador de malas, colocadas cuidadosamente na camionete
inglesa do “Seu Cecy”. “Celina” era o nome da casa, no Farol, nome de minha
avó. Larga, ventilada, grande, com um quintal que ia até a outra rua, Bateria.
Um pátio amplo, onde ficavam cadeiras, bancos, redes, de onde acenava para os
amigos meu avô querido. Onde meu pai tocava violão e à noite, ligava seu
Transglobe para pesquisar emissoras do mundo. No quintal, campo de futebol e de
vôlei. E ficávamos lá a aproveitar a vida, crianças, livres e felizes. Uma
grande família, juntando os das casas e os dos edifícios Tralhoto, Catolé e
Caramujo. A pracinha do Farol no final da tarde era o lugar de encontro de
todos, banho tomado, rostos vermelhos de tanto sol. Nós, garotos, na fila,
aguardando a vez de dar uma volta no kart do Sr. Harley, que também fazia
mágicas. Os pais de família chegavam no navio das seis da tarde, sexta feira.
Desembarcavam trazendo jornais, revistas, novidades e em Belém, muitos faziam
parte do bloco “solteiros de julho”, os colunistas aproveitando para fazer
insinuações que deixavam as madames loucas e quem sabe, revidando.
O
tempo foi passando, vieram os primeiros amores, os inesquecíveis, as peladas de
futebol no Farol, os passeios com as meninas na Ilha dos Amores. Lá vem Rubem
Ohana com sua Kombi cheia de brotinhos do Chapéu Virado para animar a festa. No
Netuno Iate Clube, luz negra, som da Esmeril Band, de Paulo Pimenta e os
rapazes com olhar de rapina, experimentando os primeiros goles de cuba libre,
para dar coragem. E agora já havia, também, a boate Ressaca, de construção
moderna, circular e com som mecânico. Não, ainda nem era “disco” e sim mistura
de rock and roll, baladas e black music.
De
dia, era pegar a bike e circular, no máximo até o Chapéu Virado para dar uma
olhada nas meninas. Nos finais de tarde, ficávamos ao sol, feito lagartos, no
Carramanchão. Os bem aquinhoados já mostravam seus carros, talas largas,
descarga kadron e toca fitas.
Com
a ponte, um número maior de pessoas pôde, também, frequentar este paraíso e com
o tempo, outras ofertas como Salinas surgiram, levando um grande contingente de
jovens.
Hoje,
durante a semana, é como um cenário deserto. Pode-se andar, revisitar as
grandes lembranças. Sentar e pensar. Como éramos felizes! No final de semana,
quase sempre lotado de carros tocando bregas altíssimos, é bom passar no Hotel
do Farol, tomar um banho, apreciar a vista e lembrar. Eu vou e dou alguns
passos no pátio da casa que não é mais da minha família. Na pracinha. No Farol.
Como que repisando minha vida. É como se novamente ouvisse aquela algazarra,
crianças correndo, olha o papagaio chinando, meus irmãos, meus amigos, “Light
my Fire” com Jose Feliciano e os amores todos que nunca esquecerei. Julho está
chegando.
(Publicado na coluna "Cesta" em O Diário do Pará, 27.06.14)
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