E aí
a decalage se fará presente. Saio de cinco horas a mais. Atrapalha nas
refeições e no horário do sono. Galho fraco, dois dias e estará tudo bem. Bem,
já estão me chamando.
segunda-feira, 16 de junho de 2014
Au Revoir
Estou
em uma sala do Hotel L’Univers, em Saint Malo. Em meia hora farei minha última
participação no festival Les Etonnants Voyageurs. Vou estar com escritores de
várias partes do mundo. Agora de manhã, estive com Mohamed Fakharani, egípcio.
Há pouco estavam comigo Marcelino Freire e Raimundo Carrero, dois pernambucanos
perfeitos, barulhentos, engraçados e politizados. Vieram, fizeram barulho e
saíram para trabalhar. Os caras nos trouxeram mas nos fizeram trabalhar um
bocado. O festival termina lá pelas seis com um coquetel. Já está batendo o
cansaço. Estou por aqui há duas semanas. O contato com o público é muito bom e
o tratamento que estou recebendo é o melhor possível. É de entusiasmar
encontrar um francês que leu seu trabalho e quer discutir. Mediadores que citam
suas ocupações, preferencias, namorada, filhos, cachorros, tudo. Pouco antes de
voltar a Paris, em frente a um balcão onde várias decisões eram tomadas, uma
moça lê “Moscow”. Rói unhas. Está na última página. Clemence, minha intérprete,
me mostra. Fala com ela. Não há melhor cena para um autor. O
trem atrasou e a volta de Saint Malo virou novela. Chegamos à meia noite.
Cansado, pensei em aproveitar a viagem para tirar uma soneca. Mas quando! Em
frente, ficou um casal, ela francesa, ele iraquiano, escritores. Trouxeram
merenda. Que bom. E chegam alguns marroquinos, todos amigos. Começou o barulho.
Alguém assaltou o bar e trouxe cervejas e vinho. Logo estavam cantando. Muito
divertidos, inteligentes. Veio outro e disse, olha que bacana, um monte de
muçulmano, bebendo! Rápido, o iraquiano diz que o único muslim ali era eu, que
não estava bebendo. O iraquiano me diz que não é um bom muçulmano e toma outro
copo de vinho. De repente, sua esposa, Isabelle, me diz que é apaixonada por
bossa nova, Tom Jobim. Começa a cantar "Luiza", perfeitamente. Todos
param para ouvi-la. Ela não sabe falar português. Fez aulas de karaokê. A
paisagem é linda. Lá pelas dez, escurece. E vêm as piadas. Quase todas sobre
Saddam Hussein. Contei as minhas, misturando francês com inglês. A voz no
microfone avisa que não adianta forçar as portas do vagão bar porque estão
lacradas. O silêncio começa a cair, alguns dormem. Começa a discussão política,
muito boa. Lembrei de, mais cedo, no meeting em Saint Malo, ouvir Muhammed
Farakhian falar sobre o Cairo. Ali, falavam sobre Magreb, Marakesh, Medina,
Bagdá, ufa, que bacana estar ali, ouvindo. O trem chegou. Cai um toró daqueles
em Paris. Meu hotel, Taylor Hotel, que seria um hotel boutique, onde aproveitei
promoção daquele site Hoteis.com é uma droga. O quarto é tão pequeno que não há
como abrir a mala a não ser sobre a cama. Sem ar condicionado, tento ligar um
ventilador cujas asas batem feito um popopó. Durmo de cansado. Tenho a última
noite de autógrafos, na Librairie Charybde. Quando lerem este, já estarei na
cidade, isto é, se houver padrão Fifa em Guarulhos onde chegarei no dia da
estréia do Brasil na Copa. Querem saber? Adorei. É o sonho de todo escritor.
Talvez volte em outubro e no ano que vem. Mas também estou cansado. Está na
hora de voltar. Ainda mais agora que o Remo é campeão!
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