segunda-feira, 16 de junho de 2014

Sempre teremos Paris



O motorista saiu do bairro Marais para me deixar no hotel. No rádio, tocava “Pata Pata”, com Myriam Makeba. Paris estava quieta, a não ser nos nightclubs, claro. As ruas são limpas. Há muitas luzes. Chafarizes funcionando solitariamente. Os franceses fumam muito e jogam as baganas nas ruas. A todo instante passa um caminhão com uma espécie de esfregão, limpando tudo. A noite foi muito boa. A Livraria Thé des Ècrivains fez o lançamento de meus dois livros, “Os Éguas”, que aqui se tornou “Belém” e “Moscow”, através da Asphalte Editions, que pertence a duas moças bem jovens e muito criativas, Estelle e Claire. Sebastién, o gerente, convidou uma cantora, Caroline e um violonista para cantar músicas brasileiras. Caroline é francesa e nunca veio aqui. Depois, com a ajuda de um intérprete, falei a respeito do Brasil, do Pará, de Belém. Eles gostaram dos livros. Acompanhei desde os primeiros dias, através da internet e os franceses perceberam onde eu pretendi chegar. Ficaram impressionados com a violência, mas entenderam meus argumentos a respeito disso estar espalhado no mundo. Da espetacularização, glamurização da violência, dos filmes de Hollywood destruindo Estátua da Liberdade, Casa Branca, os símbolos de poder e segurança. Compreenderam que, dizendo-se impressionados, estavam dando valor à Literatura contida no livro. Minha escrita, neste sentido, é crua, não evitando as cores fortes, exatamente para levar impacto ao leitor. As frases curtas. A troca de sujeito. Troca de tempo de verbo, tudo para tomar a atenção de quem lê, fazê-lo acompanhar-me na ação, sentir a respiração, o ritmo, sentir-se assustado e acima de tudo, não parar de ler. Tudo isso explanei na conversa com os leitores que lotaram a livraria, que também conta com algumas mesas e serviço de bar. Impossível não sentir orgulho. Sou um escritor paraense. Moro longe dos grandes centros. Há como que um muro impedindo a minha passagem e a de outros colegas para a grande mídia, no Rio de Janeiro e Sào Paulo. E, no entanto, conseguir chegar aqui é uma vitória. Mais ainda porque venceu a qualidade da escrita e do livro feito pela Boitempo Editorial. Apresentando outro cenário, outro mundo, a Amazônia, sem necessariamente falar de araras, botos, maniçoba, índios e que tais. Não é meu estilo. Falou mais alto a Literatura. Desculpem, mas me sinto orgulhoso. A França é o grande lugar da Literatura. Há programas de rádio, tv, jornais, blogs, revistas. Dei entrevistas para todos. De alguma maneira, espero estar abrindo caminho para meus colegas. Literatura Brasileira não é somente Sudeste do Brasil. Agora vou para Saint Malo participar do Festival Les Etonnants Voyageurs, junto com mais dez escritores brasileiros, claro, todos de Rio e SP. Mas eu estou lá e creio que de todos, eu e mais uns dois, no máximo, temos livro à venda na França. Uma vantagem. Participarei de mesas redondas com autores asiáticos, africanos e europeus. Saint Malo fica na Bretanha, que não conheço a não ser através de filmes. Vai ser muito bom. Na volta, outra nuit especial, desta vez, na Livraria Charybde, onde novamente falarei do meu trabalho e evidentemente, do nosso Pará. Agora o verão está chegando em Paris. O dia começou com 11 graus e de repente, aqueceu, super sol, tipo na Praia do Farol. A tarde se foi lá pelas dez da noite. Até então, uma cor linda. E Paris, vamos combinar! Depois conto como foi em Saint Malo. Au revoir.

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