Como
parar um país inteiro? Desde o meio dia, a população deixou seus empregos.
Bancos pararam. Comércio. Serviços públicos apenas com emergência. A multidão
em festa nem se queixou de engarrafamento. Entalados nos calorentos ônibus,
ainda assim alegres, contentes. Nos meios de comunicação uma barreira
estrondosa de comerciais com o tema da Copa. Nossos craques, ídolos, promessas
de descontos, preços, promoções. Parece que vamos todos para uma festa. Gritar
gol, ver show de bola, tomar algumas, vestir verde e amarelo, juntar amigos,
família, fazer novos amigos, abraçar amorosamente pessoas que nunca havíamos
visto antes.
A
cidade está parada. Não há trânsito aqui no centro. Um silêncio intenso toma
conta das esquinas acostumadas a freadas, buzinas, fumaça, imprecações, vento.
Agora o vento está livre, sem obstáculos a ultrapassar. As ruas estão
solitárias. Dá pena. Um ônibus parou e seu motorista está assistindo ao jogo.
Não há passageiros. Há somente uma multidão diante de aparelhos de televisão
dos mais variados tamanhos e qualidade. Está tensa, roendo unhas. De repente,
todos perguntam onde está a festa para a qual foram todos convidados? O show?
Os gols e jogadas maravilhosas? Onde está nosso país campeão, que ninguém
vence, ninguém é maior do que nós. Podemos ter todos os problemas do mundo,
nosso complexo de vira latas, mas no futebol conosco ninguém pode. Onde está?
O
jogo acabou e ficou preso um grito uníssono no ar. Ficaram guardados, tristes,
melancólicos, os foguetes que fariam a festa das pessoas e o horror de animais
domésticos. O que se deve fazer quando o jogo acaba e nada aconteceu? Não
abraçamos novos amigos. Não gritamos, não pulamos, não fomos para a Doca
festejar. As famílias recolhem as cadeiras, alguém ainda quer uma saideira. Não
te esquece de pagar amanhã a prestação, aquela lembra aquele, agora que nada
aconteceu no jogo. Pagamos a conta? As crianças ficam quedas. As mulheres com
rostos pintados de verde amarelo. Súbito, ficaram ridículas. Corre pra tirar
isso da cara. De repente o lugar ficou deserto, triste. O que era festa virou
sem graça. Não perdemos, não ganhamos. Sequer houve um gol. Alguns discutem a
competência do técnico. Somos todos técnicos. Sabemos a melhor escalação, as
substituições. Achamos um absurdo ter sido escalado este ou outro. Agora,
olhamo-nos e não sabemos o que fazer. Uns beberam e agora precisam ir para
casa. Hoje tem novela das oito? Outros decidem levar o cachorro para dar uma
volta. Não há o que fazer. Tu não tens prova amanhã, menino? Aproveita e vai estudar!
Ih, sabia que ia sobrar para mim. E tudo porque foi 0 x 0.
Como
podemos parar um país inteiro? Onde vai parar a produção, os serviços?
Aguardamos os comentaristas esportivos explicarem para concordarmos ou não?
Deve haver países onde a Copa do Mundo também provoca toda essa paixão, mas não
como aqui. Com o resultado, ficamos todos nervosos. Muito nervosos. Ah, esses
meios de comunicação precisam me explicar muito bem. Me convidaram para uma
festa de gols, alegria, comprovação de nossa invencibilidade. Em vez disso, o
silêncio. Vamos assistir juntos o próximo jogo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário