terça-feira, 17 de junho de 2014
Esperando Robert Capa
Estava
em um TGV francês, indo para Saint Malo quando iniciei conversa com meu amigo
de banco, Boo, um vietnamita que foi apresentar um documentário sobre o Rio
Ganges. Fotógrafo, disse que trabalhava no front de diversas guerras. Já estava
acostumado à adrenalina. Sim, talvez fosse um vício. A vida normal é muito
chata. Monsieur Boo é baixinho, olhos espertos, atento a todos os movimentos à
sua volta. Está sempre considerando uma foto. E, por coincidência, acabo de ler
“Esperando Robert Capa”, de Susana Fortes, a respeito do amor entre Gerta
Pohorylle, uma alemã e o húngaro André Friedmann. Conheceram-se na Paris de
1935, na mesma roda que incluía também Man Ray, Pablo Picasso, Luiz Buñuel e
Ernest Hemingway. Namorando, ela virou sua manager. Não funcionava. Vida dura.
Teve uma idéia. Agora, teriam outros nomes. Ela, Gerda Tara e ele, Robert Capa.
Vendia suas fotos por alto valor. Funcionou. Aí estourou a Guerra Civil da
Espanha. Todos os românticos do mundo foram para lá, lutar contra Franco e o
fascismo. Eram casal, sócios, amigos e o que mais surgisse. Brigavam e se
amavam fortemente. Ela engolia a tristeza quando algumas fotos suas, mas
assinadas por ele, obtinham sucesso. Mas foi na Espanha que fez sua grande
foto, do homem sendo fuzilado. Brigaram novamente. Em Madri, sofreu acidente. Morreu.
Ele nunca a esqueceu. Alistou-se para estar na primeira leva de combatentes que
desembarcou na costa da Normandia, Praia de Omaha, Segunda Guerra Mundial, onde
tantos morreram e onde fez fotos inesquecíveis. Mais tarde, também morreu em
combate. Recentemente, foram descobertos no México, caixotes contendo fotos
inéditas suas e de Gerda. Um tesouro que está no Centro Internacional de
Fotografia sendo estudado. Brevemente em exposição. Na capa, Gerda, na cama,
dormindo, usando pijama de Capa, autor da foto.
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