quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Terça Gorda em Moscow
"A adversidade, a burrice, usadas como armas a favor da estética da agressividade, se impondo no mundo da sofisticação, harmonia, equilíbrio". Não sei se tirei a frase de algum artigo que li e gostei, ou se é de minha autoria. Não importa. Estou chocado. Estive em Mosqueiro na terça feira "gorda". Uma cilada, claro. Mas quando as mulheres manifestam sua vontade, é melhor atender, até mesmo porque todos os seus argumentos serão considerados mero "arrastar de correntes, puxando para trás". Escolho ficar, ao menos, ali em Porto Arthur, não somente porque minha mãe tem um apartamento ali, mas principalmente por ser uma praia menos procurada, embora imunda, com esgoto despejado a céu aberto. Cometi um erro. A fome me acenava e decidi ir até a praia, via Ariramba, logo na chegada. Bem, havia uma fila e o pastel ainda estava fritando. Não esperei. E aí, vem o grande erro. Seguir adiante, pela Beira Mar, via Murubira. É claro que não se tratou de nenhuma novidade, mas confesso, fiquei chocado. Excesso de frescura, coisa de alfenim, sei lá. O fato é que passar por aquele trecho me transformou o dia. Os carros estão estacionados na diagonal, sobre as calçadas, deixando pequena nesga onde sentam pessoas feias (desculpem, provavelmente sou mais feio que elas, mas que elas são feias, ah, isso são), bebendo sem parar, expostas ao sol. Sem nenhum excesso, de dois em dois carros, há um som ligado no volume máximo, completamente distorcido, com música brega da pior qualidade (desculpem o pleonasmo). Sem calçadas, todos andam pelas bordas da rua. Olho para seus rostos e não acredito que não percebam que não há nada a ouvir, pois o resultado é uma gororoba sonora. Não há nada a conversar, por impossível. Então, é a agressão mútua, muda, porque não há impropérios dirigidos, o que é feito através das atitudes. Agressão estética, de respeito, civilidade. A fila anda lentamente. Há ônibus lotados, vans miseráveis, outros carros com o som ligado no volume máximo. Uma moça colide com meu espelho lateral. Sorte, não quebrou. Agora está bem lento. Percebo, finalmente, que alguém, ao encontrar uma nesga, estacionou seu carro na diagonal, mas sem espaço suficiente à frente. Como resultado, bloqueou uma das pistas. E pronto. Assim, todos vamos passando aos poucos, na base do agora é a minha vez. Quando, enfim, superamos o trecho, confesso que estava chocado e de mau humor. Ainda tentamos o Paraíso, mas lá, também, embora com pouco menos agressividade, o ambiente era o mesmo. Antes, por apanhar um caminho errado (a placa avisando a direção das praias é instalada em local impróprio e está apagada), fui parar na Baía do Sol. Menos mal que almoçamos no Quintela, restaurante próximo ao Paraíso. A namorada traçou uma galinha cabidela. Eu, péssimo gourmet, pedi um improvável filé e fui agradavelmente surpreendido por uma delícia de prato. Mas puxa, superar a agressão no início da viagem, foi difícil. Como é possível viver assim? Pior, parece que estou errado e eles todos, felizes da vida, estão certos. E nessa ida sem rumo, até a Baía do Sol, flagramos esse outro mundo, onde parecemos ser minoria, em plena atividade. Mototaxis sem capacete nem para o motora, muito menos para quem transporta. Agressão por todos os lados. Terra queimada sem dó por invasores do MST. Fico pensando que até meu livro "Moscow" parece muito leve, diante disso tudo.
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