Por vezes pensamos um passeio e bobamente, esquecemos das condições para realiza-lo. Às vezes, nossas mulheres, namoradas, como bem faz o espírito feminino, dizem logo que nada irá acontecer, afinal, estamos sempre puxando correntes nos passeios. Está bem, dizemos e encaramos. Uma noite dessas, a idéia era ir até Icoaraci, comer na Pizzaria Vitória. Deixo de lado a questão da rotatória, a Almirante Barroso, o incrível Entroncamento, obra a ridicularizar a engenharia paraense. Pior que tudo isso é o que fazemos no dia a dia pela cidade, no que diz respeito à "Rodovia" ou "Avenida" Augusto Montenegro. Sem uma definição certa, o que acarreta características próprias, hoje se trata de uma estrada, um caminho de roça, tomado pela "nova civilização", aquela que emerge da monumental falta de Educação, Cultura, Saúde e Saneamento, principalmente aqui no Pará. Há novas leis. Pedestres ocupam o caminho, seja atravessando, movimentando-se em qualquer velocidade, vendendo quinquilharias, juntamente com ciclistas na mão e contramão, enquanto que na nesga de pista, trafega velozmente, a não ser no trecho onde há radares, quando obedecem, por saber que o Poder Público ali está apenas para ganhar o dinheiro da multa, pois, para todas as outras condições que não existem, não está presente. Nesta nesga, sem qualquer especificação de horário, trafegam ônibus caindo aos pedaços, vans sinistras, desafiando qualquer idéia de segurança, taxis, carros de passeio, caminhões gigantescos, que estacionam onde bem entendem e motociclistas, sejam moto taxistas, crianças sem nenhum tipo de proteção e motociclistas sem chapa. Como um trouxa, nos damos conta e não dizemos nada, como uma vingança silenciosa contra aquela que nos empurrou a tal empreitada. Esperamos até que ela, diante daquilo tudo, capitule. Mas estamos chegando. Passear pela beiramar, lentamente, porque todos o fazem, em todos os tipos de veículos, ou andando, como bem entendem. E passamos por carros com sistema de som altíssimo, lado a lado, tocando brega, cada um diferente do outro. E vão andando, aos magotes, como quem não dá bola. Churrasquinho é o lancha da vez. Já escrevi um dia, voltarei breve, sobre a Cultura do Churrasquinho, que invadiu nosso mundo. Enfim, a pizza é gostosa e voltamos, enfrentando as mesmas confusões. Passa, zunindo, uma moto sem chapa. Adiante, um carro da Polícia. Faz que não vê. Agora, passa por nós uma dupla. Crianças, sem capacete, nada. O carro da Polícia tenta barrar a passagem, elas tentam escapar pelo outro lado. Investem na direção de um Posto de Gasolina, próximo a uma boate, onde as pessoas dançam quase dentro da pista, desviando-se de quem passa, e há filas duplas de taxis. A Polícia vai atrás das crianças. Das crianças.
A Augusto Montenegro está tomada por imensos super mercados, faculdades, conjuntos habitacionais de alto e baixíssimo nível, todos deixando para a pista, uma nesga. Será que nunca foi feito um plano sobre a ampliação das pistas? Hoje, claro que ela não mais comporta o fluxo de trânsito que recebe. E não há para onde escapar! As duas pistas estão afogadas, imprensadas pela ganancia de uns e incompetencia de outros. De quem é a culpa? De todos nós, inclusive de quem vive ali. Quem vive, tem dinheiro e cultura suficiente para perceber e não gritar. Todos parecemos querer ganhar o nosso e deixar pra lá. Donos desses condomínios ricos, lá dentro, devem ter vida de Primeiro Mundo. Pensam que o mundo é lá dentro. Não é. Quando pisam aqui fora, é na lama. E não estão nem aí. Se há alguma esperança? Não. Eu não tenho. Puxa, como é difícil viver em Belém!
Um comentário:
Concordo... como é difícil mesmo.
Pior é que tenho que dirigir pela Augusto Montenegro todos os dias pois trabalho para aquelas bandas!
Não tem um dia sequer que não veja algum absurdo. São vans, motociclistas, ônibus, moto-táxis, pedestres... tudo como se fosse em Nova Déli mesmo! Um horror!
Postar um comentário