quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A Cultura como modelo da sociedade

Cresci em um mundo onde a Cultura servia de modelo para a sociedade. O que os poetas, romancistas escreviam, era seguido, admirado, discutido. Os músicos, sobretudo, a partir do final dos anos 60 e a revolução de costumes que houve. Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento, para citar alguns. Seguíamos suas modas, discutíamos suas opiniões. Havia um livro importante e corríamos para comprar. O filme de Fellini que vimos na Sessão das Dez, no Cinema Palácio, rendia uma semana, no mínimo, de descobertas. Não sou saudosista. Vivo meu tempo que é agora. Adoro as novidades, que gosto de consumir sofregamente, mas vivemos um momento difícil, dificílimo, na Cultura. No mundo todo, com a internet e outros meios de consumo de bens culturais, há uma super exposição. Agora, não temos mais um disco para ouvir por dois meses, decupando suas faixas, entendendo tudo. São pelo menos dez, por dia, digo, assim, para ter um número, e também livros, filmes, vídeos, notícias, milhões para engolir, sem engasgar. Coisas boas, coisas ruins. Cultura e não Cultura. Enquanto em vários países, isso contribui para a melhoria do pensamento, do tecido de civilização, da convivência, melhoria de condições de maneira geral, aqui no Brasil, é ao contrário. Nossa democracia é recente, e dela, em seus primeiros movimentos, quem se aproveita são os ladrões, espertalhões, criminosos, até que possamos expurgá-los todos e enfim, usufruir dela em uma sociedade mais justa. Para isso, somente apostando em Cultura. É exatamente o que não foi feito nos últimos vinte anos. Em uma cidade com quase dois milhões de habitantes, há muito poucas salas de cinema e estas, apresentam quase sempre o que há de mais raso em cartaz. O gerente local, cinemaníaco, culto, de vez em quando experimenta e se decepciona. Lembro, passados alguns anos, que assisti em São Paulo "Apocalypse Redux", a versão longa de Coppola e voltei entusiasmado. Em Belém, o filme resistiu por três dias em cartaz, por falta de público. Posso dizer, com orgulho, que já lotei várias vezes, e com direito a sessão extra, casas como Teatro da Paz. Hoje, somente com globais do Zorra Total. Onde estão as músicas novas que nos fazem discutir, pensar? Os livros? As peças de teatro? A Cultura deixou de ser modelo para a sociedade de hoje. Há na dominical Troppo, do Liberal, uma seção onde alguém é entrevistado sobre leitura. Eu diria que absolutamente quase todos que declaram ler algo, oferecem títulos de auto ajuda. Chega a ser lamentável. E não adianta pensar em "melhor do que nada". Melhor que nada é uma merda. O que estamos discutindo? O que conversam, nas rodas de cerveja? Antigamente, iam ao cinema, ao teatro, e depois, ao jantar, ao bar, para discutir o que foi visto. Hoje, passam direto aos bares, lotados desde cedo. Qual o pensamento de hoje? Onde estão essas gerações perdidas, sem opinião, acostumadas a "googlar" tudo e ler sinopses, ouvir e assistir highlights. Onde estão? Vamos nos arrepender brutalmente disso tudo. Sinto-me só na multidão. Recentemente, fizemos "Abraço" no Teatro Cláudio Barradas, da Escola de Teatro e Dança da Ufpa. Mas isso é assunto para uma próxima postagem.

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