quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
O Teatro não vai ao Teatro
Fizemos três meses de temporada da peça "Abraço", no Teatro Cuíra. De especial, o encontro entre Zê Charone e o grande Cláudio Barradas, ator e diretor que faz parte da história das artes cênicas paraenses. Em janeiro, para celebrar seus 80 anos de idade, propusemos à Escola de Teatro, algumas comemorações, incluindo um final de semana no Teatro "Cláudio Barradas", de "Abraço". Na antevéspera, houve a gravação de um programa de tv da Ufpa, tendo CB como entrevistado. Sem papas na língua, Barradas aproveitou para alertar as cerca de 200 pessoas presentes, que estaria naquele palco, naquele final de semana e que aí, sim, gostaria de saber quem realmente tem predileção pelo teatro. Para mim, foi uma decepção. Provavelmente, daquelas 200 pessoas presentes, com cara de paisagem, posando de amantes de teatro, nem dez compareceram aos espetáculos. E jogue na panela, gente que posa de bacana e de intelectual da área. Pior, imaginei que o corpo de professores da Escola, deliciado, maravilhado pela presença, ali, na casa, de um dos fundadores, de uma das pedras do teatro paraense, não somente levaria todos os seus alunos, incluindo pedidos para debates, informações posteriores à apresentação, como compareceria em bloco, para homenageá-lo, presenteá-lo com flores, livros de presença, sei lá, provas de sua importância. Provas do imenso carinho em recebê-lo ali. Não. Professores, alguns poucos, em regime de conta gotas, o foram assistir na temporada do Cuíra. No Teatro da Escola, creio que somente a diretora e assim mesmo, no último dia. Alunos, não lembro. Houve ex-alunos, uns três. Tivemos público normal, isso sim, do tamanho do teatro local, hoje. Talvez possam pensar que uso Barradas para criticar a ausência das pessoas da Escola em assistir a um texto meu, dirigido por mim. Passo longe. Já fizemos três meses em nossa casa, o Cuíra. Escrevo isso porque foi tudo de uma indelicadeza brutal com alguém que merece todas as loas. Aos 80 anos, Cláudio Barradas é lúcido, inteligente, ousado, disciplinado, um grande ator, em pleno domínio de sua técnica e emoção. Merece, sim, todas as homenagens e pelo menos pelo Cuíra, posso dizer que assim prosseguirá. Já estamos começando os primeiros movimentos de "Sem dizer adeus", onde ele estará no palco, ao lado, novamente, de Zê Charone. E a Escola de Teatro? Meu Deus, os professores não vão ao teatro, não gostam, estão de saco cheio, estressados! E os alunos que também não vão, estão sem saco! Se nem eles se interessam, quem se interessará?
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