sexta-feira, 16 de agosto de 2019
3 DIAS DE AMOR, PAZ E MÚSICA, NUNCA MAIS
Neste
agosto, completam 50 anos da realização do Festival de Woodstock, realizado em
1969, em um descampado da fazenda de Max Yasgur, em Bethel. Há pouco tempo
havia acontecido o Festival de Monterrey, onde a juventude da época iniciou o que
se chamou de “Flower Summer”. Os Estados Unidos estavam em guerra no Vietnã e
havia passeatas e movimentos combatidos ferozmente pelas autoridades. Era a
geração pós Segunda Guerra Mundial, que se levantava contra a caretice dos
tempos. A idéia dos hippies era paz e amor. Havia comunidades onde tudo era de
todos, inclusive sexo. Alguns estacionados, outros vivendo em kombis que
circulavam pelo país. Michael Lang resolveu fazer o festival. Teve dificuldade
em fechar contratos por conta da inexperiência. Havia ingressos sendo vendidos,
mas de repente, como um tsunami, multidões jovens começaram a se dirigir até a
tranquila cidade de Bethel, cujos moradores viviam da criação de animais e agricultura.
O primeiro problema foi conter aqueles sem ingressos. As cercas foram
ultrapassadas. Agora era gratuito. Aos poucos, juntaram-se 300 mil pessoas para
assistir aos shows, em uma época em que as caixas de som não davam conta
daquele espaço todo, muito menos o delay da música. As autoridades determinaram
estado de sítio. As estradas ficaram imprestáveis. Até artistas não conseguiram
chegar. Joni Mitchell voltou para casa e compôs “Woodstock”, um de seus maiores
sucessos, sem ter estado lá. Outros tiveram de ir de helicóptero. Houve algumas
overdoses, nascimentos, namoros rápidos e permanentes e um quase nada de
violência. Veio a chuva e tudo virou lamaçal. Foram todos tomar banho nus,
homens, mulheres e crianças. Havia quem desse aula de yoga, meditação
transcendental e se apresentasse tocando suas músicas. Alguém não havia
chegado. Jon Sebastian, que era do Lovin Spoonful estava lá e foi cantar.
Dedicou aos nenéns e mães de Woodstock. Crosby, Stills, Nash & Young nunca
haviam tocado ao vivo. Tremiam. Santana tinha um horário. Anteciparam em oito
horas. Estavam relaxados, drogados. Foram ao palco e arrasaram. Grateful Dead
tocou muito. The Who e “Tommy”. Janis. Michael Wadleigh decidiu filmar. Quando
viu o tamanho da coisa, voltou a NY e catou todos os carretéis de filmes da
cidade. Ganhou Oscar. Um gravador na beira do palco registrou o som. Incrível
como até ficou bom. Hoje, 50 anos depois, tudo está restaurado e relançado.
Jimi Hendrix fechou, com atraso, manhã cedo, o festival. Testou nova banda que
não foi adiante. Tocou celebremente o hino americano na guitarra, com sons de
bombas e aviões. O mundo nunca mais foi o mesmo. Para lançar o álbum triplo, as
gravadoras que não a Atlantic, liberaram apenas canções menos famosas de seus
artistas. Por causa delas, do filme, da trilha, muitos desses artistas
estouraram mundialmente. Os Beatles tinham acabado. Os Stones estavam de
férias. Agora imaginem um moleque magro, cabeçudo, orelhudo, curioso, 16 anos, assistindo
sete vezes no Olímpia esse filme. Mudou minha vida. Houve outro festival, que
terminou com brigas, incêndio e drogas pesadas. Michael Lang quis festejar os
50 anos. Lutou muito, mas não conseguiu. Artistas cancelaram, patrocinadores
caíram fora. Os tempos são outros. Vivemos um tempo de guerra, animosidade e
infantilismo musical. Paz, amor e música, nunca mais.
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