sexta-feira, 5 de julho de 2019
THE WALL
Uma
parede. Acho que nos dias em que vivemos existe uma parede entre minha geração
e as nascidas, talvez, partir dos anos
90. Jornalistas que alcançaram o direito a um espaço nas mídias para escrever
crônicas, artigos, opiniões, escrevem para quem? Leio Elias Pinto, como um
avohai pela Campina, procurando Alceu Valença, falando dos bares que fecharam.
O múltiplo Adriano Barroso insistindo que Clodô, Climério e Clésio, do Pessoal
do Ceará são os melhores em noites de vinyl. O mano Edgar diariamente falando
aos empedernidos. Estive Em SP e RJ assistindo muito teatro. Sempre, a
expressiva maioria da plateia, de cabeça branca. Quando esses grisalhos nào
estiverem mais aqui, quem estará na plateia? Percebo olhos de interrogação
quando digo que o melhor filme que já assisti foi “Amarcord”, de Federico
Fellini. Quem? Lembro quando, bem jovem, anos 70, o olhar perplexo das
vendedoras da Radiolux, quando perguntava se havia chegado o disco novo da
Mahavishnu Orchestra. Quê? Sempre gozei da amizade de meus colegas jornalistas,
quando precisei de divulgação aos meus livros e peças de teatro, mas já há
muito que repórteres chegam e perguntam quem é o senhor? O que faz? É ator?
Escreveu este livro sobre o quê? Sequer leram o release enviado. Um locutor,
dizendo a programação teatral da cidade, à qual quase ninguém atende, informou
que o grupo Gruta apresentava a peça “Antigona”, talvez pensando que por ter
sido escrita nos tempos da Grécia antiga, fosse bem antiga, mesmo, se me
entendem. São informações que não fazem parte do seu mundo. Já não é hora de
alguém, sutilmente, para não revelar ainda mais a ignorância do autor da idéia,
tirar a placa no interior do estádio “Jornalista Edgar Proença”, onde está
escrito “Jornalista Edgar Augusto”? O mano foi um excelente narrador esportivo,
foda-se a suspeição, mas o nome é homenagem a meu avô, fundador da Rádio Clube
e de muitas outras glórias. A burrice vem dos tempos tucanos e continua. O
imenso fosso causado pela destruição da Educação e Cultura no Brasil, criou
essa massa de pessoas que pensam que o mundo começou no dia em que nasceram.
Jogadores famosos que nunca ouviram falar de Pelé, Garrincha, Zico, Tostão, sei
lá. Os leitores que ainda nos lêem, seja em jornais, seja em mídias sociais, já
percebi, adoram quando escrevemos sobre o passado, lembrando acontecimentos,
modas, gírias, pessoas. Lembram do seu tempo. Nosso tempo. E ainda são pessoas
que compram cds em tempos de streaming, frequentam livrarias e até alugam dvds
em que possam assistir os grandes filmes, ao invés dos “Vingadores” de hoje,
para uma plateia infantilizada. João de Jesus Paes Loureiro, uma glória
paraense, completou 80 anos e lançou livro. Mereceu algum espaço. Merecia muito
mais. Cadernos, documentários, entrevistas extensas, releituras, debates. Mas,
não. Há uma parede entre nós e algumas gerações que considero perdidas. Não
sabem de nada. Não tem consciência crítica. A música virou atirei o pau no
gato. Teatro vira um erro de locutor. O que haverá quando formos embora? A
escuridão. Na Praia do Pepê, RJ, passam moças lindas em seus sumários biquínis,
tão bonitas que fazem mal à saúde e eu fico pensando no seu universo cultural. Vou
pagar o barraqueiro que nos serviu de bebidas. Chega uma moça, escultural,
molhada, saída de um mergulho. O rapaz pergunta se ela quer alguma coisa e ela
responde que precisa que ele a leve até a barraca onde estão suas amigas. Estou
bêbada e me perdi. Está rolando um vinho muito gostoso por lá. Mesmo em Belém,
passam carros importados, com jovens orgulhosos, ao volante, ouvindo a todo
volume sertanojos e que tais. Sim, a Educação e a Cultura nunca estiveram em
nível tão baixo quanto hoje, mas imagino que esses jovens puderam estudar nos
melhores colégios e deveriam receber os melhores ensinamentos, de forma a saber
refletir e julgar o que ouvem, assistem, lêem. Mas, não. Livros ocupam espaço,
devem achar. São infantilizados, culturalmente, já escrevi antes. E quando os
grisalhos se forem, o que restará?
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