A
maior parte dos meus livros é cheia de personagens de baixo nível, segundo
padrões da sociedade. Além da influência de Rubem Fonseca, Dashell Hammett e
James Ellroy entre outros, o mundo que me cercava no prédio em que morei uma
vida inteira, me seduziu. Pessoas que vivem no limite, vivendo cada dia, sem
saber o amanhã. Acordam e não sabem se terão café da manhã, almoço ou jantar.
Estão para o que ocorrer. Cafetões, prostitutas, traficantes, camelôs,
engraxates, gente que toma conta de carros, magarefes, formam uma quadrilha
informal irresistível. São criaturas desprezadas em nome de nossa hipócrita
sociedade de homens de bem. Eu os adoro. Caminhando no meu entorno, fiz
amizades, me sentia protegido e principalmente, os assistia no seu dia a dia.
Ouvia com atenção seus reclamos, xingamentos e alegrias. Lembrei agora de Roni,
que toma conta de carros parados em frente ao prédio do INSS. Baixinho,
responsável até tomar uns gorós, quando toma seu balde plástico onde põe água
para lavar carros, agora transformado em tambor. Batuca e canta melodias que
nunca ouvi antes. Um fim de tarde, ele me aborda e me pede uns trocados. Não
vou mentir, doutor, é pra tomar uns gorós. Há, neles, uma dose imensa de
humanidade, com sentimentos à flor da pele, necessidades urgentes e emoção,
muita emoção. Nas prostitutas no seu eterno aguardar por clientes. Amor? Amor?
Vamos fazer um amorzinho gostoso, lançam propostas aos passantes. Lá de cima,
vejo esconderem trouxinhas em seus decotes e vão passando, incólumes, raspando
guardas que revistam suspeitos na clássica posição de braços na parede, pernas
abertas. Quando encontro uma literatura que fala desse mundo, leio
sofregamente. É o caso de três livros que indico a vocês.
“Marafa”,
de Marques Rebelo, foi escrito em 1935, retratando o Rio de Janeiro com seu
carnaval, boemia, malandragens, brigas, com um linguajar delicioso e cheio de
humor. Malandros, putas, trabalhadores, circulam por subúrbios, cortiços e
bordeis jogando, apostando, fazendo amor e crimes. O título é palavra que
segundo Aurélio, significa “vida desregrada, licenciosa, libertina”. Adoro. Uma
delícia ler o romance do malandro Teixeirinha com a prostituta Rizoleta.
Outro
que tal é “Criaturas que o mundo esqueceu”, de João Carlos Rodrigues -
HumanaLetra, novamente ambientado no Rio de Janeiro de algumas décadas atrás,
reunindo contos que mostram um nobre francês, uma condessa italiana, cronista
social, cantora do rádio, travestis, gays, malandros, garotos de programa, uma
fauna na Cidade Maravilhosa, em festas que podem ser em Copacabana ou em Xerém,
ruas e praias de Ipanema, ou cabarés no centro.
Para
terminar, “Eles e elas – Contos da Broadway”, de Damon Runyon – Carambaia, em
contos que reúnem toda a fauna que habitava a Broadway, New York, entre 1920 e
1930, basicamente reunidos no restaurante Lindy’s. Runyon, jornalista, cobria
esportes, levava uma vida de observação. Sentava e assistia o balé de coristas,
contrabandistas, mafiosos, putas, gays e bem adiante, precisando de dinheiro,
começou a publicar e a fazer sucesso. Leiam, urgentemente.
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