sexta-feira, 5 de julho de 2019

FOI ASSIM QUANDO EU VI O MAR

A primeira vez em que mergulhei nas águas de uma praia no Rio de Janeiro, tinha apenas nove anos. Minha avó, de vestido, sombrinha, vigiava do calçadão meus movimentos. À época, a água não ficava tão distante da rua. Indômito garoto mosqueirense, armado com minha prancha de pegar jacaré, respirei fundo e iniciei uma corrida vitoriosa, até mergulhar para aguardar as ondas. Aos primeiros passos na água, senti algo diferente. Em seguida, ao mergulhar no melhor estilo Johnny Weissmuller, senti a temperatura diferente. Ao invés da água quente e lodosa da Praia do Farol, aquela água de oceano estava ge-la-da! Retornei à margem perdendo toda a pose de campeão, sem poder preocupar-me com o olhar dos outros moleques que pareciam estar muito à vontade, dentro d’água. Assustado, sentindo ainda o frio do mergulho, percebi que era um verdadeiro Rubicão. Com cautela, fui andando lentamente, deixando a água tocar-me o corpo aos poucos. Não foi possível. Na primeira onda que apareceu retirei-me, tentando ser garboso, de tal forma que pensassem que não estava satisfeito com a altura das ondas, naquele dia, digamos. Paraenses, naqueles dias do século passado, viajavam em magotes para o Rio de Janeiro, nas férias de janeiro. Ainda viajam, apesar de Miami estar competindo. Encontravam-se pelas ruas e perguntavam: Quando tu chegaste? Quando tu vais? Lembro de meus tios levando a mim e meu irmão até São Conrado para conhecer o mitológico Bar Ben, patrocinador do programa de Big Boy, o lendário dj da Rádio Mundial, que ouvíamos em Belém. O bar era meio chinfrim. São Conrado ainda era pouco visitado, a não ser por rapazes em seus bólidos levando garotas para assistir “corridas de submarino”. Adolescente, chegávamos às praias, agora, Ipanema, com várias turmas, dependendo do posto ou da rua. Escavávamos a areia, esticávamos toalhas ou cangas, de tal maneira que o montinho virava um travesseiro e ali ficávamos lagarteando ao sol, besuntados de Rayito Del Sol. Parte dessas lembranças escrevi em uma peça chamada “A Menina do Rio Guamá”, sobre uma paraense que ao viver na Cidade Maravilhosa e esquecer de sua origem e seu sotaque, recebe a família, estabelecendo-se o choque cultural. Foi muito legal. Adulto, fui esquecendo da praia e preferindo São Paulo. Agora, 35 anos depois, talvez, na Praia do Pepê reencontrei o vento, a maresia, areia e seus personagens. Sim, ambulantes vendendo biscoito Globo, olha o Mate! Sorvete Kibon, olha o queijo coalho! Vendedores de chapéus e biquínis. Superando a barreira das ofertas de cadeira e guarda sol, fiquei ali, com protetor 200, chapéu e camisa contra UV. Passam belas mulheres em biquínis audaciosos e outras, mais velhas, ou acima do peso, qualquer coisa, também em biquínis audaciosos, demonstrando não estar nem aí para quem quiser achar ruim. Tiozinhos aposentados, fit, bronzeados, circulam. Garotos em pranchas de surf e Paddle. Desta vez, os praticantes de kite surf não apareceram. E vamos dar um mergulho. Cauteloso, inicio a caminha lentamente, até tomar coragem e tibum, que água maravilhosamente gelada, transparente e convidativa. E lembrem que se trata de inverno. Não há uma nuvem no céu e já admiti que nada mudará até ir embora. Pego um livro de Sergio Rodrigues, abrindo em um conto sobre a visita de João Gilberto aos Novos Baianos, em seu sítio, no Rio. Acabo de ler e prefiro contemplar a paisagem. Limpa a mente, faz bem aos olhos e penso que o Rio de Janeiro, apesar de tudo, continua lindo!

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