É
impressionante como nos mais inóspitos lugares do planeta, encontramos
sentimentos como amor, paixão, traição, ambição, vingança, como nos textos de
Shakespeare. Laura Restrepo é uma festejada jornalista investigativa. Estava
pesquisando um assunto de tráfico de drogas quando topou com a cidade de Tora,
na selva colombiana, próxima a um poço de petróleo, administrado pela Tropical
Oil Company. Uma vez por mês, os petroleiros descem das montanhas e vão gastar
seu dinheiro na zona de prostituição da cidade, La Catunga. E aí, tudo
acontece. Laura começa entrevistando as velhas prostitutas e cafetinas e
descobre uma grande história de amor. Há um garoto, Sacramento, criado sem pai
nem mãe. Um dia, chega a La Catunga uma menina, pedindo para ser levada para a
zona. Uma criança. A cafetina a examina e percebe que a menina tem algo a
oferecer. Dá-lhe banho, tira piolhos e a alimenta. Inseparáveis, ela e o
menino. O tempo passa. Chega o momento dela virar puta. Escolheram o parceiro a
desvirgina-la. Sacramento, apaixonado, sai pelo mundo disposto a fazer
dinheiro, retornar e casar com ela. O nome da agora mulher é Sayonara, porque
tinha algo de oriental nos olhos. Vira lenda. Seu nome vira poesia na boca dos
felizardos clientes. Enquanto isso, o garoto arruma um parceiro de desventuras,
Payanés. Trabalha no poço de petróleo. Como quase todos, pega malária e
amebíase. Fica à morte. Dá ao parceiro o dinheiro que guardara para levar à
menina, para que saísse de La Catunga. Payanés vai e se apaixona. Sayonara
também. E lhe dá uma mecha de cabelo, como compromisso. Quando o parceiro
volta, o amigo se recuperou. Sem graça, entrega-lhe a mecha. Em torno, há
muitas e muitas histórias. Houve uma grande greve, tiros, mortes. Sayonara
pensa que vai casar com Payanés. Não. Ele prefere daquele jeito. Ela se
aborrece, ele sai por aí sem rumo. Mas o Sacramento, agora homem, volta. Com a
greve, a companhia agora oferece casas aos petroleiros. Pede em casamento. Ela
aceita, mesmo sem o amar, a não ser como um irmão. Ele a prende em casa,
durante o dia. Morre de ciúmes e de que alguém a reconheça. Não pode ser assim.
Sai da cidade. Trabalha em uma serraria, na selva. Na hora do almoço, as
esposas levam a comida. Mas quando Sayonara surge, todos fazem silêncio. O
garoto não pode aceitar. Muda-se para outra cidade. Agora, ela trabalha como
dama de companhia de uma senhora que tem dinheiro. Passa o dia trancada. Uma
prostituta de La Catunga a vê. Fala que todos têm saudade. Sayonara não está
mais suportando aquela vida e retorna. Deixa o marido que não ama. Lucia
examina a história de Sayonara. De onde veio, menina, querendo ser prostituta?
Descobre a cidade. Havia um branco que casou com uma índia. Teve quatro meninas
e um rapaz. Este, se apaixonou por uma filha de família rica. O irmão da moça
não gostou. Era do exército. O rapaz também servia e agora era submetido
diariamente a todo tipo de humilhação. Um dia, reage. O irmão da moça o prende
em um buraco até que ele morre. Ao saber, a mãe, índia, vai para a frente do
quartel, derrama-se álcool e toca fogo. A menina foge. Quanta história! Quando
Sayonara retorna a La Catunga, já não está tão lúcida. Põe-se diariamente a
esperar o retorno do seu amor, Payanés, nem que fosse para os encontros
mensais, como prostituta. Mas ele não retorna, nem Sayonara sai da beira do
rio. Um texto magnífico! Lançamento da Companhia das Letras.
Um comentário:
Envolvente, muito bom.
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