sexta-feira, 15 de junho de 2018

A NOVA COPA

Será que nos animaremos para a Copa do Mundo? Creio que sim. Aguardaremos a primeira vitória e as ruas vibrarão. Com nossa alma de cachorro vira lata, como dizia Nelson Rodrigues, ergueremos os punhos gritando, diante do mundo “dobrem-se ao talento brasileiro!”. Ao menos no futebol. Não me lembro da primeira Copa em 1958. Tinha apenas quatro anos, mas havia um elepê contendo a narração de todos os gols da seleção. O irmão mais velho tocava sem parar. Um problemão. A transmissão chegava com má qualidade. Assim, meu pai trancou-se em seu gabinete, no apartamento, colocou fones de ouvido e passou a dublar a narração. Uma façanha. Quanto a nós, ficamos proibidos sequer de falar, quanto mais correr e gritar em brincadeiras, para não atrapalhar seu trabalho. Imaginem as ameaças que recebemos. Enfim, certamente, a de maior envolvimento emocional foi a de 1982. Eram meus ídolos em ação, o Flamengo campeão do mundo, dando show de bola, até aparecer Paulo Rossi. Pessoas choraram pelas ruas. Baixo astral. Foi como tomar pirulito de criança. O futebol começou a mudar. As contratações. Nossos craques, como Falcão, Zico, Sócrates, Júnior, Oscar, sei lá quem mais, foram encantar os europeus. E chegamos hoje, em que os clubes europeus são verdadeiras seleções com os melhores jogadores do mundo. O esporte globalizou. Isso me fez pensar. Tenho uma idéia. Quero dividir com vocês. Deixem todas as opiniões de lado, por um instante. Quando as Copas começaram, há muito tempo atrás, as equipes viajavam de navio. As comunicações também eram difíceis. Então, os encontros eram surpreendentes. Escolas diferentes de futebol. Lembro que em 1958, todos aguardavam a seleção russa, que praticaria o futebol científico. Bem, Mané Garrincha acabou com tudo. Mas havia a Italia e seu ferrolho. Os ingleses e o jogo aéreo. Os húngaros geniais. E os brasileiros, que jogavam sambando. Até tinha sentido cantar o hino nacional antes dos jogos, como se fossem dois exércitos para a guerra. Hoje, tudo mudou. Para a maioria de jogadores consagrados e ricos, a Copa é um torneio de verão, já que deviam estar de férias após estafante temporada, mas que paga bons prêmios, renova contratos de publicidade, enfim. O resto é propaganda. Experimentem passar uma semana fora do Brasil. Provavelmente não lerão ou assistirão nenhuma notícia daqui. Imaginem um jogador de futebol, distante de casa, treino e jogo, conquistas, riqueza, um, dois, quatro anos. Perdem a ligação, nem lembram da torcida brasileira. Chegam aos treinos de helicóptero. Joga-se da mesma maneira, globalizada, hoje, no mundo inteiro. Minha idéia, preparem-se: cada seleção é escolhida entre melhores jogadores em ação em cada país. Nada de nacionalidade. A seleção será de jogadores vistos a cada jogo, em cada país. Sim, dirão que Espanha e Inglaterra, por exemplo, serão favoritas. Pode ser, mas a seleção brasileira, acho, jogará da maneira que jogamos aqui. Com os ídolos locais. Perdemos referencia. Somente quem  assiste a jogos internacionais por canais fechados, acompanha os craques brasileiros. A seleção nem faz amistosos por aqui. É mais barato reunir os jogadores na Inglaterra, por exemplo. Estranho? Ficamos mais fracos e não seremos mais o destaque? Pode ser. Mas será o espelho do futebol em cada país. Penso também que torceremos mais fervorosamente por craques aos quais assistimos durante a semana, em nossos campeonatos. Minha idéia. O que acham?

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