Li
no jornal Estado de São Paulo, matéria referente ao estágio das vozes de
algumas das maiores figuras da música popular brasileira. Todos eles com idades
acima dos 70 anos. A maioria surgida ali nos anos 60, aproveitando ao máximo
todos os acontecimentos que revolucionaram os costumes e também os excessos das
experimentações com drogas. Ney Matogrosso está com 76, Roberto e Erasmo com
77, Gil, Caetano e Milton com 75, Chico com 73, Gal com 72 e Bethânia com 71.
Eles e mais alguns outros, poucos, fizeram nossa geração cantar, aprender e
compreender. Ainda estão na luta, embora já não tenham público renovado, devido
à debacle da qualidade musical hoje vigente, na base do “atirei o pau no gato”,
nível de compreensão atual dos nossos jovens. Confesso sentir um certo
constrangimento ao ouvir os astros da minha juventude. Não eram apenas letras e
músicas, mas a maneira de cantar. Ney e sua voz aguda, Roberto perfeito em
técnica, Erasmo feito roqueiro, Caetano e Milton maravilhosos, Chico discreto,
Gal e Bethania sensacionais. De todos eles, meu incômodo é maior com Gilberto
Gil. Cantor espetacular, improvisador, ele tinha orgulho de seu potencial
vocal. Problemas na garganta, operações e ele agora é um artista que sofre para
atingir as notas mais fáceis. Alguns me repreendem dizendo que eu não podia
esperar mais de um artista com mais de 70 anos. Está bem. Mas é que ele me
acostumou mal. Ao ouvi-lo cantar os clássicos, sinto saudade, vontade até de
pedir para que ele ou não cante mais ou vá para os tons mais baixos, seguros,
sei lá. Mas como pedir a um artista vitorioso, ídolo, orgulhoso de sua
produção, que pare? Perguntado sobre sua voz, Caetano, com humor, disse que por
isso, agora, deixava os filhos cantarem por ele. Caetano mantém boa
performance, grande técnica, o que não ocorre com Milton Nascimento, que vem
superando alguns problemas físicos. Aquela voz poderosa, potente em graves e
agudos, agora perdeu o tônus, o brilho. E suas músicas exigem, exatamente, tudo
aquilo que o fez encantar plateias do mundo todo. Roberto Carlos e Chico
Buarque, que nunca foram de arroubos, estão bem. Fazem aulas, claro. Roberto,
bem técnico e Chico procurando se aplicar. E quanto a Gal e Bethânia? A
primeira, em seu último show, com músicas bem roqueiras, aguentou a potencia
toda, mas, sinceramente, ao interpretar músicas de seu emblemático “Fa-tal”,
não alcançou, o que é lógico, a intensidade daquele tempo. Mas é extremamente
técnica enquanto Maria Bethânia é toda emoção e cuidados com os agudos. Envolve
o público na emoção e nem precisa, digamos, exibir alcance de notas altas.
O
artigo do Estadão ainda cita Elton John, Paul McCartney e Rod Stewart, o
primeiro sentindo efeitos da velhice. Paul, corajoso, mantém as músicas nos
tons originais, confia no aquecimento das cordas vocais e faz seu show inteiro.
Um craque! Rod Stewart sempre teve a voz rascante e com a velhice, escapou do
rock para paragens mais amenas, gravando álbuns de sucesso com canções
clássicas americanas que venderam muito bem. Em tudo isso que já foi dito,
também preciso dizer que fora Chico Buarque, em alguns momentos, Gal e
Bethânia, estas, na escolha de repertório, a fonte secou para nossos heróis,
que há muito já perderam o entusiasmo e a força de composição. E poxa, eles
fizeram muito. Demais. Transformaram nossas vidas. Mas prefiro ouvir os discos
de antes do que os que ainda estão gravando. Compro, ouço, por paixão, mas
prefiro os de antes, tão lindos e inesquecíveis.
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