sexta-feira, 1 de setembro de 2017

O LIVRO NOVO DE ANDRÉ NUNES

Salomão Laredo é de Cametá, Agildo Monteiro é de Colares, Lucio Flavio é de Santarém, André Nunes é de Altamira. Quanto a mim, nasci em Belém e minha vida inteira foi na cidade, embora a essa altura, já conheça algumas cidades do interior do Estado. Isso influenciou muito minha vida de escritor. Praticamente tudo o que escrevo tem esse tom urbano, meio “Selva Concreta”, como intitulei um de meus livros. Uma selva de concreto plantada, imposta sobre a imensa selva amazônica. Pelo clima, tenho certeza que, se dependesse da natureza, não estaríamos aqui. Quando encontro esses amigos, vira e mexe, o assunto vai para suas vivências. É como se tivessem duas vidas, uma a infância e adolescência nesse interior e agora, adultos, na cidade grande. E essas memórias são riquíssimas. Quando contam, sentimos os cheiros, o vento batendo nas árvores, a chuva abundante, as pescarias e as pessoas no seu dia a dia. Agildo Monteiro me disse, recentemente, que enquanto queremos, um dia, morar em Paris, Lisboa, Miami, sei lá, ele daria tudo para voltar a Colares. Essas cidades e toda a vida que lá tiveram está marcada, impregnada em seus corpos. As cidades, embora pequenas, até pobres, criam tamanho e importância, porque eram suas cidades, seus afetos, seus amores.
Gosto muito de conversar com André Nunes. Ele foi amigo de meu pai e agora, dos filhos. O ateu e comunista mais religioso e fraterno que conheço, se religião é espalhar o amor e a compreensão. Mora em um paraíso, o famoso Restaurante da Terra do Meio, com um açude ou igarapé que parece delicioso. E como gosta de contar suas histórias! Quando se olha para o relógio, o tempo voou. Ao relógio, não dá nenhuma importância.
Depois dos 60 anos, resolveu escrever e contar um tanto do que viu em livro. Saiu “Xingu”, de crônicas e causos. Depois, “A Batalha do Riozinho do Anfrísio”, “A Agenda do Velho Comunista” e agora “Minha Doce Puta”. Todos os fatos e acontecimentos de uma vida cheia de detalhes mirabolantes, com alma paraense e amor pelo interior. Estudioso de nossa história, não há nada que não conheça e possa explicar. A memória de sua adolescência e homem jovem, com os amigos, que no momento mais importante, não lhe faltaram. Junto com um amigo, pensou, meramente para passar o tempo, em uma Estrada para ligar Altamira ao mundo. Melhor, primeiro, até Santarém. Um piauiense arretado ouviu a idéia e espalhou. Imagina, é só para passar o tempo, nada sabemos disso. O cara trouxe do Piauí três irmãos, mais as famílias. Arranjaram uma grana. Paga só o do sustento e depois queremos um terreno pra nossa casinha. E foram desmatando. Sumiram. Alguém foi atrás. Avançavam. No muque. Mas como acertam o rumo se nem bússola têm? Guiavam-se pela passagem do avião da Paraense, diariamente. Sumiram. Foram procurar. Pena, estavam crivados de flechas. Uma tribo não percebida. Que história! A essa altura, todos respiramos fundo, tomamos um trago de nossas bebidas, alguém vai ao banheiro, passa o garçom perguntando que querem algo, enquanto todos rememoram em suas mentes, recriam com suas imagens, tudo o que foi contado. Há algo de mágico nos contadores de histórias. Na melodia do falar. Nas pausas que ninguém ousa quebrar. Na tônica certa, como dois pontos, fazendo-nos aguardar, enquanto ele molha os lábios na bebida, continuar. No olhar denunciando as intenções das falas. No corpo que se agita e torna a se comportar. Uma mágica. André Nunes, tem. Quanto ao título do livro, “Minha Doce Puta”, mais uma história fantástica, que pode ter acontecido com qualquer um de nós, adolescentes nos anos 60, deixo para lerem quando for lançado, dia 12 de setembro, na Livraria Fox, com bate papo entre André e Lúcio Flavio Pinto, autor do prefácio.


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