sexta-feira, 15 de setembro de 2017

DA ELEGÂNCIA

Não sei se meu avô, Edgar Proença era o autor, mas ele dizia “o homem elegante, não sua”. Estava sempre de paletó e gravata. Mais velhinho, aposentou a gravata, mas roupas, sempre de linho. Mesmo em casa, sapato e meias. Quando vemos fotos antigas, os homens vestem-se assim, e também com chapeu. A temperatura era mais branda, certamente, mas as árvores do centro da cidade ainda não estavam tão viçosas, é bom dizer. Também dizia que além da terrace do Grande Hotel, mais adiante o Manoel Pinto da Silva, para ele, já era fora da cidade. O centro era seu mundo, onde estava sua radio, os cafés, redação de jornais, os amigos. Era uma época de delicadeza, boas maneiras, elegancia. Hoje o conceito mudou muito, para pior, creio, embora respeite a opinião dos outros. Passo meus dias em uma sala com ar condicionado. No caminho de onde moro até meu trabalho, uns 300 metros, talvez, chego suado. Mas vejo pessoas que por conta da profissão estão pelas ruas, acostumadas, sem esse suor que molha as roupas. Sim, seria bem correto usar t shirts, bermudas e sandálias, mas tenho dificuldade. Somente há pouco tempo adotei as bermudas aos domingos. Mas entendo as outras opiniões. No entanto, há procedimentos, hoje comuns, que não consigo aprovar. Viajando de avião. Sei que antigamente era um acontecimento em nossas vidas, a própria recepção na aeronave era diferente, serviço de refeição e outros que não mais existem. Grassou no Brasil o espírito de viajar de ônibus. E vejo os passageiros, de sandálias de dedo, bermudas, camisetas regatta e não consigo aprovar. Repito, é questão minha, todos têm o direito de se vestir como quiserem. Não, isso quase não acontece com mulheres. No mínimo, estão bem arrumadas. Não chego a exagero de cabelo pronto, maquiagem, vestidos de festa, mas estão sempre bem. Aos homens, a esculhambação. Pior, mas pior mesmo, é sair nas noites de sábado e domingo, nos restaurantes. Vêm as moças, tão lindas, bem vestidas, charmosas e de mãos dadas, o parceiro de t shirt amarrotada, bermuda dessas que deixam o rego da bunda aparecendo e sandálias de dedo, gastas.

Acho, no mínimo, falta de educação para com a mulher. Nossos modos sociais. Os finais de semana são, geralmente, preferidos para quem trabalha duro, relaxar, jantar fora e namorar. É por isso que as mulheres se aprontam, dão um up no visual. Talvez estejam bonitas para si próprias, talvez para serem vistas pelas outras mulheres, mas principalmente, estão bonitas para serem apreciadas pelos parceiros. Vão a um lugar mais chic, onde estão pessoas também elegantes. E, de mãos dadas, o homem descabelado, barba por fazer, t shirt como aquelas camisas que usamos para dormir, bem amassada, bermuda no “rendengue” e sandália de dedo. Será uma demonstração de pouco apreço à parceira? Será para mostrar que, dependendo dele, ficaria em casa, assistindo jogo ou em roda de dominó com outros que tal? Eu também não sou elegante, mas mínimamente, procuro estar razoável. Uso sempre t shirt bem passada, jeans e botas. Minha roupa do cotidiano, mas aos finais de semana, sempre novas, em bom estado. Quase não uso camisas de tecido, manga comprida, enrolada no braço. Acho meio mauricinho, meio uniforme. Faço isso como uma homenagem à minha parceira, também porque desejo estar bem comigo mesmo. E nem estamos tratando, aqui, de boas maneiras, cavalheirismo e outros costumes que parecem ter sido esquecidos. Não quero mudar opinião de ninguém, apenas suscitar alguma reflexão sobre o assunto. Pena, meu avô, não posso ser elegante. Eu suo quando saio às ruas.

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