Lendo “Em busca de Jesus, fé, fatos e falsificações”,
escrito por David Gibson e Michael McKinley, para a Editora Fontanar,
deparei-me com uma frase que JC teria dito a Judas Iscariotes, quando
revelou-lhe a traição que iria cometer. Disse também, algo como “em breve
deixarei este corpo que me veste”. A frase não me deixou por dias. Deixando de
lado a questão levantada por JC, lembrei de um artigo que escrevi, no dia em
que completei 50 anos. Me olhara no espelho, diferentemente dos outros dias.
Não mais, meramente para localizar seus contornos, na direção de escovar os
dentes, lavar o rosto, fazer a barba. Não nos detemos nos detalhes. É quase
mecânico. Nesse dia, não. O ser que me habita prestou atenção nos resultados
que o tempo operou. Rugas, papas, bigode chinês, ralos cabelos brancos, nariz
proeminente. A princípio, recusei. Não podia. O cara que me habita não podia
ser aquele velho que estava enxergando, naquele dia, finalmente. Foi um choque.
A pergunta então é como nos vemos, se é que nos vemos, sem prestar atenção na
camisa, calça, sapato da moda. Você consegue se ver? Eu me imaginava mais novo,
sem barriga, com essas roupas atemporais que hoje todos vestem, t-shirt, jeans
e botas. Esse convívio com jovens que acontece uma vida inteira por conta da
Rádio Cidade e Jovem Pan. Olhando para o espelho, para “o corpo que me veste”,
me decepcionei um tanto. Felizmente, olhando para trás, não posso deixar de
ficar feliz, com tudo o que realizei. E você? Fez a faculdade que queria?
Conseguiu estudar ou teve logo de trabalhar? Você que seguiu a carreira do pai,
mesmo não querendo. Hoje, estabelecido, familiares, você olha para trás e pode
dizer que foi uma boa vida? Você que tinha uma carreira, casou, teve filhos, e
hoje está em casa, assistindo Ana Maria Braga. Confesso que fui muito
irresponsável com esse “corpo que me veste”. A sorte é ter sempre o esporte na
vida. Não tenho hábitos alimentares saudáveis. Faço “o corpo” dormir em uma boa
cama, embora, durante o dia, castigue-o com longos períodos sentado no mesmo
lugar. O problema, mesmo, é aceitar o desgaste do tal “corpo”. Meu amigo regula
de idade comigo. Na pelada, joga de centro avante. Lá vem o cruzamento para a
área. Não é na direção de uma cabeçada. Rápido, ele gira o corpo, salta e tenta
o que chamam de “bicicleta”. Muito antes de atingir qualquer ápice no salto,
para alcançar a bola, ele se esborracha no gramado e fica se contorcendo em
dores. Quantos anos pensava ter quando veio o cruzamento e em seu pensamento, a
maravilhosa sensação de fazer um golaço? Penso nos jovens e sua disposição para
estudar, dançar, praticar esportes, sem nunca denotar cansaço. Muitas vezes
emendei direto da festa para um futebol matinal. E quem pensa no corpo que
“veste”? Quem me habita gosta de rock and roll, futebol, viagens, livros,
filmes, enfim. E quando passa uma “bundinha bonita”, me embriago, surto,
lamento e lembro da minha fada”. Você cuida bem do corpo que lhe veste? Jesus
não cuidou. Foi agredido, surrado, espetado, chicoteado, furado. Ficou em
petição de miséria, como se diz. Mas no caso dÊle, havia muito mais em jogo.
Imagino que você que me lê, não tenha que estragar o corpo que o veste, de tal
forma que ele suporte muitos mais anos de vida. Como você se vê?
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