O
livro de Lord é excelente porque não tem nenhum roteiro com personagens e um
objetivo. É um relato de entrevistas que fez com os sobreviventes e algum
estudo, para explicar dados mais técnicos. O sinistro também serviu para uma
melhora nas relações. Um mundo novo estava se apresentando e velhos costumes,
acabando. Mais de mil pessoas, a maioria que viajava na Terceira Classe, morreu
afogada, sem conseguir chegar aos botes, que como sabem, eram insuficientes.
Mesmo assim, vários dos botes estavam com apenas 40 ou 60% dos lugares
ocupados. Tudo por conta do nervosismo, falta de preparo e absurdos como não
permitir que as classes mais baixas tivessem acesso direto ao convés onde
estavam embarcando. Os costumes! O senhor Guggenheim, quando percebeu que
apenas mulheres e crianças embarcavam, curtiu sua bebida e charuto até morrer.
Outro, responsável técnico, não suportou e nos últimos instantes, jogou-se ao
mar e conseguiu chegar a um dos botes. Depois, amargurado para o resto da vida,
trancou-se em casa. A grande pergunta que o livro fica fazendo, com o relato
das vítimas é “o que é que você faria”. Nem se mexia, como diz a marchinha, ou
lutava? Confesso que eu pularia no mar. Melhor morrer lutando. Sim, tentaria
chegar a um dos botes não totalmente cheios. O pedido de socorro era QDT e o
SOS estava começando a vingar. Operadores de rádio não trabalhavam 24 horas. Um
navio, bem próximo, fez que não entendeu os pedidos de socorro. Outro, o
Carpathia, mudou sua direção e salvou quase mil passageiros, mulheres e
crianças a maior parte, congelando, após quatro horas no mar, entre icebergs,
com a temperatura da água em -2o. Outros trinta homens, que saltaram
para a água, equilibraram-se, a noite inteira, em um bote emborcado. Em terra,
aguardando por mensagens os jornais oscilavam entre manchetes esperançosas ou
escandalosas. As ações da companhia fabricante do navio despencaram. Lembro que
o Titanic tinha um irmão, Olympic, se não estou enganado. Os inafundáveis! E a
sensação de estar no meio do mar, gelado? A solidão. A imensidão. Um homem
escapou vestido de mulher. Descoberto mais tarde, perdeu-se na multidão, mas
com vida. Algumas mulheres decidiram ficar no Titanic e acompanhar seus maridos
até o fim. É verdade que a orquestra tocou vibrantemente até o ultimo instante.
Assisti o filme de Cameron. Mesmo com Kate Winslet, não é melhor do que este
livro de Walter Lord, escrito em 1955 e que no entanto conserva a mesma força,
concisão, informação e ritmo. Recomendo.
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
OUTRA VEZ O TITANIC?
“Sentado,
no trilho do trem, todo amarrado e amordaçado, sabendo que o maquinista não é
seu parente, nem olha pra frente, o que é que você faria? Eu nesse caso, nem me
mexia”. Esse é um trecho de uma marchinha que meus pais cantavam com seu Bando
da Estrela. Lembrei disso ao ler o relançamento “Uma noite fatídica”, de Walter
Lord, original de 1955 e considerado, entre tantas publicações a respeito do
afundamento do “Titanic”, a melhor. O cineasta James Cameron, autor da mais
recente filmagem, utilizou-o como fonte de informações. Bem, um mês após o
naufrágio, estreava no cinema “Saved from the Titanic”, com Dorothy Gibson,
atriz que estava no navio, quando do naufrágio. Mais incrível foi ter saído um
livro, alguns meses antes da primeira viagem do Titanic, contando a história do
navio Atlantic, em sua primeira viagem, também, e afundando por colidir com um
iceberg.
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