sexta-feira, 21 de agosto de 2015

EXTREMA VIOLÊNCIA

Extrema é uma cidade com uns 30 mil habitantes, na divisa entre Minas Gerais e São Paulo. Era um entreposto comercial que aos poucos ascendeu a município. Enriqueceu quando indústrias se instalaram, gozando de isenções fiscais de um Estado, e tendo outro para vender. É uma cidade limpa, sem pichações, com população tranquila e aparentemente preocupada com a beleza. Há muitos salões anunciando diversos procedimentos. Na praça principal, há uma bela igreja que  a todo instante toca seus sinos. Apesar de não ter uma livraria sequer em um raio de 50 quilômetros, realizou pela segunda vez sua Feira Literária, mercê do esforço de alguns abnegados, comandados por Marcelo Spomberg, que conseguiu levar até lá um grupo seleto de escritores brasileiros, tendo como tema “A violência na Literatura”. Chego de madrugada a São Paulo. Um homem vem e me pergunta se sol Ariovaldo. Volta mais tarde e desculpa-se. Era a mim que buscava. Gabriel é alto, gestos largos, origem italiana. Dentista, gosta de música, pensa em escrever, mas está feliz em participar da iniciativa. Em Extrema, Júlio trabalha na Secretaria de Cultura. A seu lado, uma moça bem jovem, não lembro o nome. É cantora. Não, não está na programação. Canta rock. Na praça, há um palanque onde estudantes disputam um “soletrando”. Ao lado, tendas abrigam livrarias, contratadas especialmente. Seu Toninho é dono da Queenbooks. Está lá para colaborar. Levou todos os meus livros e dos demais companheiros para vender. Seu Toninho é muito legal e me faz bom desconto nos livros. Aparecem professores pedindo que escreva alguma coisa nos meus trabalhos. Há shows musicais, teatro infantil e oficinas de literatura na programação. A primeira mesa fala sobre Rubem Fonseca. Cadão Volpato, que foi líder da banda Fellini, nos anos 80 e promete uma volta breve, é o excelente mediador. O professor Ariovaldo Vidal, que tem livro sobre o recluso escritor carioca e Paula Parisot, escritora e performer, sua amiga, dão um show. Vamos todos almoçar em um restaurante tipicamente mineiro. Na volta, Ilana Casoy debate com o psiquiatra forense Guido Palomba “Violência: ameaça real e silenciosa”. Ele é teatral. Ela é certeira. Por pouco não vão às vias de fato. Cadão teve trabalho. Ilana me contou que o verdadeiro assassino das crianças emasculadas de Altamira está preso em São Luiz, por outro delito. Confessou a ela detalhes de cada criança vitimada. Quanto ao médico que está preso, é inocente. No sábado, dividi com Marcelino Freire, a mesa “Realidade e outras emoções”. Marcelino é um dos grandes escritores brasileiros. Após outro restaurante mineiro, assistimos Reinaldo Moraes e Raphael Montes debateram “Literatura escrita com sangue”. Reinaldo é quase um mito em SP. Raphael trabalha em roteiros na Globo. Em seguida, Lourenço Mutarelli e Beto Brant conversaram sobre “Cinema Adaptado”. Mais tarde, no cinema da cidade, “Muta” assiste pela enésima vez seu “Cheiro de Ralo”. Todos os escritores na plateia onde uma garrafa de whisky circulava. A noite foi longe, juntamente com a galera da cidade, na praça, festejando sua noite de sábado. Tão pequena, tão simples, Extrema realiza essa Feira porque acredita na Cultura. Lembrei de Belém e da nossa FLiPa. Gente fazendo força pela Literatura. Há sempre idealistas por aí, lutando sozinhos contra a maré braba da cretinice orgulhosa.

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