Meu amigo ligou no domingo à
noite. “Li tua crônica sobre Mosqueiro. Estou na estrada. Na BR. Sabes há
quanto tempo saí do Mosqueiro, Ariramba? Duas horas. E agora estou em outro
engarrafamento. Derruba qualquer astral”. O que dizer? Nós, que ficamos,
estamos bem. Quando a ilha era servida apenas por navio e nas férias era habitada
quase que somente pela classe média, aos finais das tardes de sexta feira,
desembarcavam os homens que trabalharam durante a semana. Chegavam com o Cecy
ou de ônibus. Roupa de cidade, jornais debaixo do braço, revistinhas para as
crianças. As esposas iam esperar à porta das casas. Na segunda, bem cedinho,
estavam de volta à labuta. Sem grande comunicação, os que ficavam na cidade
eram chamados de “solteirões de julho”. Colunistas sociais soltavam notas
maliciosas de grandes festas onde compareciam apenas estes senhores, chefes de
prole e agradáveis moças. Eles, claro, ficavam silentes quando perguntados, a
maioria gostando daquele flerte com a verdade.
Nós estamos bem. Não
aproveitamos as belas manhãs de sol, finais de tarde aplaudidos na praia, muvuca
nos bares. Nada disso. Mas devo dizer que tentei ir ao Roxy Bar em uma terça
feira, tipo oito da noite. Qual o quê. A porta parecia uma fila do SUS. Passei
em outros estabelecimentos. Todos cheios. Moro no centro da cidade. É claro que
o trânsito ficou melhor. É da cultura do paraense curtir as férias de verão.
Acho muito bacana viver a sua cidade, a sua comunidade. Infelizmente, depois de
adulto, prefiro ser do contra, talvez por mera vontade de ir contra a maré. Já
não tenho mais crianças ou adolescentes exigindo praia, embora tenha saudade
disso. Mas todos se vão. E agora, também, para Miami. E sempre foram para
outros municípios, gente que volta para a casa dos pais, visitar parentes. O
trânsito fica melhor. Os colégios fechados. Mas a cidade cresceu muito. Lá no
clube, não deixamos de jogar futebol na tarde de sábado. Os cinemas, lotados.
Restaurantes, assim assim, a não ser o Roxy.
Meu amigo voltava com toda a
família. Na casa, sem espaço, dormem apertados. Ah, deixa de má vontade! Uns
vão à praia. O dono da casa vai trocar o gás, que acabou. A bomba d’água,
queimou. Ih, essa geladeira não anda boa. Não faz gelo. Manda comprar
refrigerante. Acabou. Ao menos um maço de cigarro. Acabou. Quantas horas para
chegar àquele estacionamento ao ar livre que chamam de praia? Hiluxes e motos
passam em velocidade de Mad Max. Outra offroad estaciona e liga seus potentes
falantes com a pior música do mundo. Camarão! Quanto é o camarão? Quê?!!!
Alguém que venda cerveja? Quente?
Nós ficamos bem. Durante a
semana, cumprimos nossos afazeres e à noite, circulamos nos points, com a
galera que vai e volta numa boa, vivendo seu verão. Aos finais de semana,
acreditem, os clubes funcionam normalmente, restaurantes e o vai vem de carros
é até mais seletivo. Os solteirões de julho se foram. Hoje, com facetime e
snapshot e outros “radares”, há pouco espaço para escapulidas. De parte a
parte. Este é o penúltimo final de semana. O auge, quem sabe. Por favor, amigos
com mais de 50 anos, evitem aquelas fotos constrangedoras, somente de sunga. O
aviso vale para homens e mulheres. Quem será a menina mais bonita? De repente
faz 15 anos, está tudo no lugar e sai desafiando o mundo. E o garoto que vai
desmanchar corações? Então vão, vão todos, todos, mesmo! Só apareçam no mês que
vem, rostos vermelhos de sol, moendo em um engarrafamento monstro, mas felizes.
Nós ficamos bem.
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