sexta-feira, 17 de julho de 2015

AS FÉRIAS

Acordo com aquela algazarra distante das crianças na praia e a doce melodia das folhas dos coqueiros embalados pelo vento de maré cheia. Rápido a expedição está pronta e partimos para mais uma manhã adorando o rei sol. Há quem instale o guarda sol, outros as cadeiras, toalhas, cangas, comece a operar o isopor com bebidinhas e delicinhas. Jogo-me em uma espreguiçadeira e primeiro dou uma conferida no ambiente, demorando-me, lógico, nas moças bonitas que vão naquele passeio malemolente, naquela catwalk em que fazem de conta que nem prestam atenção aos olhares, enquanto nós também disfarçamos e parecemos contemplar a paisagem. Suspirando, abro o jornal ou livro e começo minha leitura. Logo, aquela algazarra vai se transformando em um lullaby e mergulho em um soninho gostoso, distante o barulho das ondas e pimba! Desperto assustado. Uma garoto vem atrás de uma bola que alguém chutou com defeito e atingiu nossa tenda. Entre imprecações e outros gritos, o moleque recolhe seu material e retorna ao jogo. Balanço o jornal que guarda alguma terra trazida pela bola e tento retomar a leitura. Qual nada. Como uma grande onda, um grande lençol, os olhos vão fechando e agora talvez consiga uma soneca boa. Quem sabe, sonhar com a Ilha dos Amores.. Pimba! Assim não tem peruano que aguente! Uma horda de vândalos atravessa a praia, como um arrastão. Com nossos medos urbanos, alguns jogam celulares e carteiras para debaixo das cadeiras e levantam os braços na base do eu me rendo. Os cavalões passam por sobre nós e outros tantos. Estão atrás de um papagaio que chinou. Curiosamente, o vitorioso foi um moleque baixinho e marrento. E agora? Outro, maior, também arvora-se a ser o vencedor. Haverá briga? Há apartes de todos os lados. O grandão cede e o moleque sai com ar vitorioso, desfilando com sua presa, orgulhoso. O céu está coalhado como em uma batalha aérea em que papagaios de todos os tipos se enfrentam em combates mortais. Pergunto-me, afinal, qual a graça em estar nesta confusão quando as crianças gritam, querendo raspa raspa. Não adianta argumentar a respeito de condições higiênicas. O raspa raspa é sagrado e ao fim, todos tomamos um copo, que devolvemos para ser lavado em uma pequena bacia imunda. Nem bem sentamos e passa o vendedor de pirulito de mel ou karo, sei lá. Assim não é possível. Que tal um mergulho? O último lá, é.. É o quê? Olha o que vocês fazem com o avô de vocês.. Bom, agora vocês me deixam ler o jornal, tirar uma soneca.. Bom dia, amigos da praia! Vai começar o show de brega, promoção da Prefeitura para alegrar este verão!! Há um palco improvisado e pressinto o que virá a seguir. Quem quiser que fique. Volto para casa, tomo banho de água de poço, mas o tal show começa e mesmo distante da praia, o som é ensurdecedor. Que férias são essas!!

Quanto a mim, leitor vulgar, estou abraçado no terceiro volume do romance “Outlander”, de Diane Gabaldon, que já virou série e assisti à primeira temporada. Romance de capa e espada que me faz voltar no tempo, tal como a protagonista, embora não de sua maneira, radical. Assim, vou passando as férias. Há muitos outros livros à espera. Quem sabe, um dia? Não moro. Sou hóspede de uma biblioteca. Os livros me cercam. Me encaram, suplicando leitura. Fazem cara feia. Mostram seus encantos. Será que conseguirei lê-los?

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